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Homem pré-histórico já tinha cães domésticos há 14 mil anos

Os dentes do cachorro mais jovem da sepultura, com traços do vírus morbilli (Cinomose Canina) - LVR/LandesMuseum Bonn
Os dentes do cachorro mais jovem da sepultura, com traços do vírus morbilli (Cinomose Canina) Imagem: LVR/LandesMuseum Bonn

Do UOL, em São Paulo

21/02/2018 14h08

O homem pré-histórico pode ter domesticado os cães muito antes do que a ciência supunha. O pesquisador alemão Luc Janssens descobriu que um cachorro, encontrado em uma tumba de 14 mil anos, morreu de uma grave doença depois de passar meses recebendo cuidados.

A tumba foi encontrada por acaso em 1914 por um grupo de trabalhadores na região de Bonn, sudoeste da Alemanha. Nela, havia os restos mortais de um homem, uma mulher e dois cachorros. As ossadas são da época paleolítica, 14 mil anos atrás.

Além de mais antigo do mundo, o túmulo é uma das primeiras evidências da domesticação de cães. O cachorro mais jovem na tumba tinha sete meses quando morreu. Para chegar na data, Janssens examinou o que sobrou dos dentes do animal. Com base em suas descobertas, ele concluiu que o cachorro provavelmente sofria de cinomose canina, uma infecção grave provocada por um vírus que ataca principalmente filhotes de cães com baixa resistência imunológica.

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Um dano específico nos dentes levou o pesquisador a acreditar que o animal contraiu a doença ainda filhote (cerca de 3 a 4 meses). Depois disso, ele teria passado por dois ou três períodos de recaídas graves que duraram de 5 a 6 semanas.

Visão geral dos fragmentos ósseos do cão encontrados no túmulo em Bonn-Oberkassel - LVR-LandesMuseum Bonn - LVR-LandesMuseum Bonn
Visão geral dos fragmentos ósseos do cão encontrados no túmulo em Bonn-Oberkassel
Imagem: LVR-LandesMuseum Bonn
"Sem cuidados adequados, um cachorro com um caso grave de cinomose morre em menos de três semanas", explica Janssens, cujo estudo foi publicado pelo Journal of Archaeological Science. O cão estava claramente doente, mas sobreviveu mais oito semanas, o que só seria possível se tivesse sido bem cuidado.

"Isso significaria mantê-lo quente e limpo e dar-lhe comida e água. Além disso, enquanto esteve doente, o cão não teria sido usado para ajudar no trabalho. Isso, e o fato de que os cães terem sido enterrados com seus prováveis donos, sugere que havia uma relação única de cuidados entre humanos e cães há 14 mil anos."

No Egito, arqueólogos já haviam descoberto oito milhões de múmias de cães em uma área próxima a um templo dedicado a Anubis, antigo deus dos mortos. Foram descobertos todos os tipos de animais: desde filhotes que morreram após algumas horas de vida até cães adultos.

As múmias seriam datadas de um período mais recente do antigo Egito, de 664 até 322 a.C., e o templo é localizado na capital antiga: Mênfis. 

Revolução agrícola

Outro estudo, publicado na revista britânica Nature, defende que o cachorro se tornou o melhor amigo do homem porque aprendeu, ao longo do tempo, a digerir o amido melhor do que o lobo, seu ancestral carnívoro. Erik Axelsson, biólogo na Universidade de Uppsala, na Suécia, e seus parceiros compararam os genomas de 12 lobos provenientes de diversos pontos do mundo e de 60 cães de 14 espécies distintas para tentar saber mais sobre essa evolução.

Dentre algumas descobertas, os pesquisadores encontraram três genes que desempenham um papel determinante na digestão do amido, um glicídeo de origem vegetal. "Podemos pensar que o desenvolvimento da agricultura serviu de canal para a domesticação do cachorro", acrescenta o grupo.

Ele ressalta o "surpreendente paralelo" entre a evolução do homem e do cão para se adaptar a uma alimentação cada vez mais rica em amido após o surgimento da agricultura.