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Incas operavam melhor o cérebro do que médicos do século 19

Evidências de trepanação encontrada em crânios no Peru - Universidade de Miami
Evidências de trepanação encontrada em crânios no Peru Imagem: Universidade de Miami

Do UOL, em São Paulo

12/06/2018 09h09

Os incas já praticavam cirurgias cranianas e tinham um índice de sobrevivência dos pacientes maior do que dos médicos da Guerra Civil americana, ou Guerra de Secessão, cerca de 400 anos depois. É o que revela um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Miami, nos Estados Unidos.

A técnica que os incas praticavam, chamada de trepanação, consiste em perfurar um orifício no crânio. Isso é feito há milhares de anos, desde a Grécia antiga. No entanto, essa civilização que vivia no Peru, antes da chegada dos conquistadores espanhóis, tinha uma taxa de sucesso surpreendentemente alta para cirurgiões

"Ainda há muitas incógnitas sobre o procedimento e os pacientes em quem a trepanação foi realizada, mas os resultados durante a Guerra Civil foram desanimadores comparados aos tempos dos incas", disse Kushner, um neurologista da Universidade de Miami. "Nos tempos incas, a taxa de mortalidade estava entre 17 e 25%, e durante a Guerra Civil, entre 46 e 56%. Essa é uma grande diferença. A questão é como os antigos cirurgiões peruanos tiveram resultados que superaram em muito os de cirurgiões durante a Guerra Civil Americana?"

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No estudo publicado por Kushner junto ao antropólogo John W. Verano, da Universidade de Tulane, e Anne R. Titlebaum, da Universidade do Arizona, só especula sobre essa resposta.

Um dos motivos pode ser a falta de higiene durante a Guerra Civil americana. Os médicos, durante a guerra, não usavam materiais esterilizados nas cirurgias realizadas, muitas vezes, no campo de batalha.

Todo soldado ferido a bala na guerra sofria de uma infecção subsequente o que faz o risco de morte aumentar significativamente.

"Não sabemos como os antigos peruanos impediam a infecção, mas parece que eles fizeram um bom trabalho. Nem sabemos o que eles usaram como anestesia, mas como houve tantas cirurgias cranianas, eles devem ter usado alguma coisa, possivelmente folhas de coca, talvez houvesse outra coisa, talvez uma bebida fermentada. Não há registros escritos, então simplesmente não sabemos", disse Kushner.

Os incas tinham muita prática. Mais de 800 crânios foram encontrados com evidências de trepanação, com datas de até 400 a.C. Isso é mais do que o total combinado encontrado em outras sociedades pré-históricas ao redor do mundo.

Para determinar que o paciente que sofreu a trepanação não morreu na cirurgia ou nos dias seguintes, os pesquisadores analisaram a remodelação óssea ao redor do furo craniano. Se não houve cura no tecido, eles assumem que o paciente morreu até poucos dias após a cirurgia.

Os incas também refinaram suas técnicas ao longo dos anos. Eles aprenderam, entre outras coisas, a não perfurar as meninges.

"Eles pareciam entender a anatomia da cabeça e propositalmente evitaram as áreas onde haveria mais sangramento. Eles também perceberam que trepanações de tamanho maior tinham menor probabilidade de serem tão bem sucedidas quanto as menores. A evidência física definitivamente mostra que esses cirurgiões antigos refinaram o procedimento. O sucesso deles é verdadeiramente notável", afirmou Kushner.