Topo

Com 80 milhões de anos, crocodilo caipira achado em MG andava como cachorro

Rodolfo Nogueira
Imagem: Rodolfo Nogueira

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

14/09/2018 15h07

Pesquisadores da UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro) apresentaram nesta sexta-feira (14), em Uberaba (MG), o esqueleto de um crocodilo que habitou o Triângulo Mineiro há 80 milhões de anos. Batizado como "Caipira mineiro", ou Caipirasuchus mineirus, o crocodilo não rastejava: andava como um cão, era muito veloz e tinha certa de 70 cm de comprimento, entre cabeça e cauda.

Segundo especialistas da UFMT, o animal pré-histórico é “primo” de três espécies do gênero crocodiloforme (crocodilo) encontradas na região de Monte Alto (SP) e classificadas no início da década de 2010: o Caipirasuchus paulistanus, o Caipirasuchus montealtensis e o Caipirasuchus estemagmate.

O crocodilo caipira mineiro era um predador ágil. Onívoro (comia plantas e carne), o animal tinha quatro patas altas, e sua postura e forma de caminhar tinha semelhanças com os cachorros modernos. O caipira mineiro usava sua velocidade, maior que a de outros animais do gênero, para atacar suas presas, e alcançar vegetações mais altas para se alimentar. A espécie era terrestre, ao contrário de outros crocodilos que habitavam a região no período.

“A diferença para os jacarés modernos é que ele possuía hábitos terrestres e um andar ereto. Com sua porção ventral distante do solo, tinha um andar mais para cachorro do que para os jacarés modernos, que praticamente rastejam-se”, diz o geólogo da UFMT, Luiz Carlos Borges Ribeiro, que participou dos estudos de classificação do animal.

Caipirasuchus mineirus - Peerj - Peerj
Imagem: Peerj

“Ele é primo dos crocodilos encontrados em São Paulo. Não é a mesma espécie porque alguns ossos têm formatos diferentes e a couraça típica do animal, que reveste placas ósseas do crocodilo, estão espalhadas por todo o corpo no animal mineiro, e não somente na região do tórax como os exemplares encontrados em São Paulo”, afirma.

“Além disso, a cauda é mais curta e em forma cilíndrica. Isso tudo, e o fato de ser terrestre, nos fizeram concluir que se tratava de uma nova espécie que habitou o Brasil Central no período”, diz o pesquisador.

O animal não deixou herdeiros, explica o especialista. Ele habitou a região no período Cretáceo Superior, há 80 milhões de anos, e sua espécie foi dizimada no evento KT, 65 milhões de anos atrás, quando 70% dos animais terrestres e aquáticos do planeta sucumbiram a um cometa que explodiu no golfo do México, a 7 mil quilômetros da região de Uberaba.

Fósseis intactos

Segundo Ribeiro, desde 2009, quando foram encontrados alguns fósseis do período Cretáceo Superior, são feitas explorações paleontológicas esporádicas na zona rural de Campina Verde (MG), município distante 205 Km de Uberaba. “O fóssil foi descoberto na mesma localidade de onde provém outro crocodilo único, o Campinasuchusdinizi. A região de Campina Verde tem se revelado um sítio paleontológico com uma quantidade excepcional de fósseis bem preservados de dinossauros, tartarugas e peixes, além de crocodilos”, afirma Ribeiro.

Ele explica que o Centro Llewellyn Ivor Price, braço da universidade na área de pesquisas paleontológicas, com atividades concentradas no distrito de Peirópolis, em Uberaba, é responsável pelos estudos e classificação desses fósseis.

As escavações em Campina Verde são esporádicas, e feitas por meio de projetos de professores e estudantes da área. Em julho de 2014, numa dessas explorações, foram encontrados algo em torno de 90% da estrutura óssea do Caipirasuchus mineirus. Trata-se de um dos fósseis de crocodilos mais completos já encontrados no país.

Logo após a descoberta, a equipe de especialistas comandada pelo cientista argentino Agustín Martinelli, pesquisador associado do Centro Ivor Price, e com a participação dos cientistas Thiago Marinho, da UFTM, Fabiano Iori, do Museu de Paleontologia de Uchoa(SP), além de Ribeiro, iniciaram os estudos dos fósseis de 80 milhões de anos.

O esqueleto do animal foi reconstituído e exposto no Museu de Peirópolis, anexo ao Centro de Pesquisas Ivor Price. O ilustrador Rodolfo Nogueira, especialista na reprodução de animais extintos, desenhou o Caipirasuchus mineirus, para a apresentação ao público da nova espécie de animal pré-histórico conhecida no país.