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Trio leva Nobel de Física por uso do laser para cortar, furar e pinçar

Prêmio Nobel
Imagem: Prêmio Nobel

Do UOL, em São Paulo

02/10/2018 07h01

O americano Arthur Ashkin, o francês Gérard Mourou e a canadense Donna  Strickland receberam, nesta terça-feira (2), o Prêmio Nobel de Física por estudos que revolucionaram o conhecimento sobre a física do laser e permitiram o desenvolvimento de ferramentas utilizadas na indústria e na medicina.

Ashkin, de 96 anos, foi reconhecido por pesquisas sobre as chamadas "pinças ópticas", feixes de laser que permitem agarrar e mover partículas. Já Mourou, de 74 anos, e Strickland, 59, foram premiados pelo desenvolvimento de um método que gera os pulsos de laser mais curtos e poderosos já criados pela humanidade. 

Donna Strickland tornou-se a terceira mulher a receber o Nobel de Física. Antes dela, foram laureadas Marie Curie (1903) e Maria Goeppert-Mayer (1963). "Pensei que seria mais fácil premiar as mulheres físicas. Espero que, com o tempo, as coisas aconteçam de modo mais rápido", disse a cientista em entrevista após o anúncio do prêmio.

Precisamos celebrar as mulheres físicas porque elas estão por aí. Estou honrada em ser uma dessas mulheres

Donna Strickland, Nobel de Física de 2018, é a terceira mulher a receber o prêmio

Para a Academia Real das Ciências da Suécia, as invenções laureadas com o prêmio desse ano revolucionaram a física do laser. "Instrumentos avançados de precisão estão abrindo áreas de pesquisa inexploradas e uma infinidade de aplicações industriais e médicas", afirma a Academia Sueca.

Pinça de laser e cirurgias oculares

As pesquisas de Arthur Ashkin levaram à técnica que cria uma "armadilha" com feixes de laser, que passam a funcionar como uma pinça. Essa pinça de raio laser é tão precisa que pode pegar e mover partículas, átomos e moléculas. As pinças ópticas também podem ser usadas para examinar e manipular vírus, bactérias e outras células vivas sem danificá-las. A ferramenta já é utilizada em laboratórios para estudar o DNA e o interior de células, por exemplo.

A ficção científica se tornou uma realidade. Pinças ópticas permitem observar, girar, cortar, empurrar e puxar coisas com a luz

Academia Real das Ciências da Suécia

As pesquisas de Gérard Mourou e Donna Strickland, por sua vez, abriram caminho para a criação dos pulsos de laser mais curtos e intensos da história. A técnica desenvolvida pela dupla cria um pulso curto de laser que é esticado e amplificado. O resultado são feixes de laser ultra-afiados que permitem cortar ou perfurar vários materiais -- inclusive matéria viva -- com extrema precisão.

Estes feixes poderosos se tornaram o padrão para lasers de alta intensidade, usados, por exemplo, em milhões de cirurgias oculares corretivas todos os anos.

O raio laser é formado por partículas de luz concentradas que se propagam em um feixe de ondas praticamente paralelas. O primeiro laser (sigla em inglês para "light amplification by stimulated emission of radiation") foi produzido por Theodore Maiman em 1960. 

Laser 2 - Johan Jarnestad/Academia Real de Ciências da Suécia - Johan Jarnestad/Academia Real de Ciências da Suécia
Pesquisas sobre laser possuem aplicações na indústria e na medicina
Imagem: Johan Jarnestad/Academia Real de Ciências da Suécia

Arthur Ashkin receberá metade do prêmio de nove milhões de coroas suecas (1,1 milhão de dólares), enquanto Gérard Mourou e Donna Strickland dividirão a outra metade da quantia.

Imunoterapia vence Nobel de Medicina

Os prêmios por conquistas na ciência, literatura e paz vêm sendo concedidos desde 1901 conforme o testamento de Alfred Nobel, empresário e magnata sueco cuja invenção da dinamite gerou uma vasta fortuna usada para financiar a honraria.

Na segunda-feira, o Prêmio Nobel de Medicina foi dado ao americano James P. Allison e ao japonês Tasuku Honjo por seus trabalhos sobre a terapia que permite que o sistema imunológico atue para combater o câncer.

Na quarta-feira será anunciado o Prêmio Nobel de Química. Na sexta-feira, o da Paz, e na próxima segunda-feira o de Economia.

Pela primeira vez desde 1949, o anúncio do Nobel de Literatura será adiado por um ano pela Academia Sueca, que enfrenta um escândalo vinculado ao movimento #MeToo, com divisões internas e a renúncia de vários membros, o que impede o funcionamento normal da instituição.