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Por que paciente que tem alta no fim de ano tem maior risco de morrer?

Paciente liberado no fim do ano também tem maior incidência de reinternação, diz estudo - iStock
Paciente liberado no fim do ano também tem maior incidência de reinternação, diz estudo Imagem: iStock

Edison Veiga

Colaboração para o UOL, em Milão (Itália)

11/12/2018 04h01

Pacientes que recebem alta nas últimas duas semanas do ano têm mais chance de morrer do que aqueles liberados em outras épocas do ano, diz um estudo publicado na última segunda-feira (10) no periódico de medicina BMJ. 

Além de trazer os dados, os médicos envolvidos na pesquisa levantam hipóteses para explicar o fato.

Para chegarem a tal conclusão, os pesquisadores analisaram 217.305 fichas de adultos e crianças que tiveram alta hospitalar em Ontário, no Canadá, durante as últimas duas semanas do ano entre 2002 e 2016. E compararam com 453.641 pacientes liberados no fim de novembro e no fim de janeiro. durante os mesmos anos.

Foram excluídos da amostra os pacientes com diferentes necessidades de acompanhamento e elevados riscos de readmissão – gestantes, recém-nascidos, doentes terminais em cuidados paliativos e aqueles com internação prolongada, por exemplo.

Além de maior mortalidade, o estudo constatou mais necessidade de re-hospitalização e de visitas à emergência entre pacientes de alta no período natalino, na comparação com o restante do ano.

Explicações

Uma das principais razões apontadas pelos pesquisadores são os excessos típicos das festividades de fim de ano: nessa época, as pessoas tendem a comer mais, ingerir álcool, além de alterar os horários de sono e passar por maior sobrecarga emocional.

“Essas circunstâncias não ideais podem desestabilizar uma condição médica aguda”, aponta uma das autoras do estudo, a médica Lauren Lapointe Shaw, do corpo clínico do Hospital Geral de Toronto.

Os pesquisadores listaram também o fator psicológico, a vontade de adiar consultas e exames previstos para o próximo ano.

Por exemplo, entre os pacientes liberados no fim do ano, 39% adiaram a consulta de retorno que deveria ocorrer dentro de sete dias, dizem os autores do estudo.

“Possivelmente, devido ao fato de quererem adiar para depois das festividades”, afirma a médica.

Os pesquisadores também lembraram que, nesse período, os hospitais podem operar com menos médicos do que numa época normal. Isso também poderia comprometer um acompanhamento mais adequado aos pacientes.

“Em um cenário de recursos reduzidos durante as festividades, os médicos podem priorizar pacientes de maior riscos”, aponta Shaw. O estudo lembra que o período pode ser mais difícil para conseguir marcar uma consulta de acompanhamento que não seja de urgência, por exemplo.

Orientações

Shaw e os demais pesquisadores do estudo salientam que a comunidade médica precisa estar atenta a essa sazonalidade para reforçar orientações aos pacientes que recebem alta neste período, deixando muito claras as limitações e os cuidados particulares necessários à recuperação de cada um.

Ao mesmo tempo, hospitais precisam se ater a essas questões na hora de planejar as atividades de fim de ano, a escala de folgas das equipes até o tipo de atendimento que deve seguir sendo oferecido de forma constante.