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O que é a história do Dia de Reis?

Homens montam camelos fantasiados como os Três Reis Magos para participar de uma procissão em Praga (República Tcheca) - Filip Singer/EFE/EPA
Homens montam camelos fantasiados como os Três Reis Magos para participar de uma procissão em Praga (República Tcheca) Imagem: Filip Singer/EFE/EPA

Edison Veiga

De Bled (Eslovênia) para o UOL

06/01/2019 04h00

Tradicionalmente, é o dia em que as árvores de Natal devem ser desmontadas. Para os cristãos, com a festa dos Reis Magos encerram-se, afinal, as comemorações natalinas. A data é celebrada em 6 de janeiro - ou, a partir da noite do dia 5.

Mas quem foram os reis magos? Eles eram mesmo reis? Eles eram magos? Eles realmente existiram? 

Provavelmente, não. Trata-se de figuras que funcionam como metáforas de que toda a humanidade estava prestando uma homenagem ao menino Jesus. De acordo com o relato bíblico, sábios do oriente levaram presentes ao Cristo recém-nascido. 

"O Evangelho de Mateus é o único a relatar a vinda de sábios do Oriente - não fala em reis, nem usa o número três", afirma o teólogo e filósofo Fernando Altemeyer Júnior, professor do Departamento de Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). "Sobre este texto dos evangelhos da infância foram acrescentadas inúmeras lendas, uma das quais dizendo que eles teriam vindo da Pérsia, por ser uma cultura versada na astrologia."

Começava a tomar forma no imaginário popular a figura dos três viajantes que seguiram o rastro de uma estrela até o encontro do menino Jesus numa manjedoura em Belém. 

"Mais tarde, o teólogo Orígenes (184-253) e o papa São Leão Magno (440-461) propõe chamá-los de reis magos", prossegue o professor. Conforme ele conta, apenas no século 7 eles ganham nomes populares. Baltasar, Belquior e Gaspar. "Eles trazem ouro, incenso e mirra para o menino Rei", conta Altemeyer. 

Os simbolismos são fortes: ouro seria um reconhecimento à realeza do menino. Incenso, em alusão à sua divindade. E mirra, um arbusto com propriedades medicinais, simbolizaria a humanidade de Jesus. 

"No século 16, lhe são atribuídas etnias: Belquior (ou Melchior) passa a ser retratado como de raça branca. Gaspar, amarelo. Baltazar, negro", pontua. "Passam a simbolizar o conjunto da humanidade." 

Natal

Ao longo da história, entretanto, a efeméride já se confundiu até mesmo com o dia de Natal, o dia do nascimento de Jesus. 

"É a festa do Deus manifesto aos humanos e ao planeta. Para os orientais foi a data primeira do Nascimento de Jesus em 06 de janeiro pelo calendário juliano", contextualiza o teólogo. "Com o passar dos séculos o mundo ocidental distinguirá a festa única em duas datas distintas 25/12 (nascimento) e 06/01 com a chegada dos sábios para adorar a criança."

A data específica da Epifania foi fixada na primeira metade do século 4 da era cristã, precedendo a fixação da festa do nascimento que é posterior e ocidental. Detalhe curioso é que os armênios monofisitas não celebram a festa do Natal em 25 de dezembro, mas o nascimento de Jesus é conexo ao batismo e à adoração dos sábios.

Dia de ganhar presente

Como os sábios visitaram o menino Jesus e lhe deram presentes, antigamente este era o dia dedicado a presentear as crianças - e não o Natal.

"Ao menos para famílias espanholas e italianas, certamente", rememora Altemeyer. "Recordo de que em minha infância - sou filho e neto de espanhóis! - eu ficava esperando em meu bairro Vila Prudente, São Paulo, a chegada do presente no dia dos Reis, em seis de janeiro. Todo mundo já curtindo desde 25 de dezembro e eu querendo saber porque esses camelos demoravam tanto. Minha mãe a vó espanholas pacientemente faziam eu crer que assim eu compreenderia que as coisas tardam para chegar mais plenamente. Minha avó polonesa me dava um calendário alemão com várias portinhas - tenho-o comigo até hoje - para eu ir abrindo a cada amanhecer para estimular a expectativa feliz do presente."