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O que faz as galinhas felizes? Ninguém tem certeza

Como saber se o frango que você comprou era uma ave feliz? - iStock
Como saber se o frango que você comprou era uma ave feliz? Imagem: iStock

Como você mede a felicidade de uma galinha? É na maneira que ela corre por comida? No tempo que gasta limpando suas penas? 

Para avaliar o que poderia fazer as galinhas felizes em suas breves vidas, pesquisadores da Universidade de Guelph, em Ontário, no Canadá, colocaram 16 raças em testes de aptidão física e comportamentais. Eles estão observando como as aves brigam por causa de uma barreira por comida, medem a agitação e verificam se brincam com uma minhoca falsa.

As galinhas não sabem dizer como se sentem, mas brincar com uma minhoca falsa pode ser um sinal de felicidade.

Nós temos que perceber quando um animal é feliz ou contente ou experimenta prazer com base em seu comportamento

Stephanie Torrey, uma das pesquisadoras

Nos últimos anos, o mundo do bem-estar animal foi além de analisar como minimizar o sofrimento para explorar se os animais também podem aproveitar suas vidas, disse Torrey.

Tais medidas podem ser consideradas irrelevantes para as empresas, mas ressaltam uma falta mais ampla de consenso em torno do bem-estar dos frangos, que às vezes são abatidos cinco semanas após saírem dos ovos.

Defensores do bem-estar animal dizem que a crueldade começa com os pássaros criados para ter peitos tão grandes que mal conseguem andar. Eles dizem que as galinhas de hoje são monstruosidades genéticas afetadas pela dor e que a indústria precisa mudar de raças.

Muitos na indústria dizem que não há problema e que os frangos não conseguem se movimentar muito, porque são sedentários. Mesmo que concordassem em mudar de raça, não está claro como devem ser as alternativas.

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Os dois lados discordam sobre a causa e a frequência de problemas de saúde entre frangos de corte. Os produtores Tyson e Sanderson Farms, por exemplo, reconhecem que os peitos de frango aumentaram com o passar dos anos, mas dizem que não veem problemas generalizados como resultado.

"Se eles não puderem se mover e chegar ao canal de alimentação, eles não sobreviverão", disse Mike Cockrell, diretor financeiro da Sanderson Farms.

John Glisson, da Associação de Aves e Ovos dos EUA, diz que os frangos de corte são "folgados" e que algumas pessoas podem confundir a preguiça das aves com um problema médico. Ele disse que tentar avaliar o bem-estar além das medidas estabelecidas pela indústria é complicado, como, por exemplo, no caso de uma galinha que morre de uma doença antes de ser abatida.

A indústria diz que a mudança de raças é desnecessária, e que criar frangos de corte que não crescem tanto ou de maneira tão rápida significaria usar mais água e outros recursos. Os preços dos frangos no supermercado seriam maiores também.

Ainda assim, o bem-estar animal está se tornando uma preocupação maior de relações públicas, e as empresas dizem que estão sempre procurando maneiras de cuidar melhor de suas galinhas.

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A Tyson recentemente realizou um teste que permite que as galinhas escolham galinheiros com diferentes níveis de luz para determinar qual elas preferem. A Perdue está testando dar às aves convencionais tanta luz e espaço quanto dá a suas aves orgânicas, que são da mesma raça.

A Humane Society dos Estados Unidos diz que melhorar as condições de vida ajuda, mas acredita que o maior problema é a reprodução que resultou em galinhas desfiguradas. A entidade diz que as galinhas foram geneticamente manipuladas para ter peitos tão grandes que suas pernas não suportam.

"É uma loucura para qualquer um ter de lembrar à indústria que as aves andam naturalmente", disse Josh Balk, vice-presidente de proteção a animais da Humane Society.

Balk disse que o estudo no Canadá fornecerá informações importantes sobre qual tipo de frango pode sofrer menos.

Pesquisadores da Universidade de Guelph também estão rastreando as características do frango, como peso, taxa de crescimento e qualidade da carne, que esperam ser úteis para a indústria. A Cobb, subsidiária da Tyson, que fornece raças para produtores de frango, está fornecendo aves para o estudo, incluindo raças amplamente utilizadas.

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As empresas dizem que já rastreiam saúde e bem-estar, mas que estão interessadas na pesquisa.

O estudo da Guelph está sendo financiado pela Global Animal Partnership (GAP), que certifica os padrões corporativos de bem-estar animal. Em 2016, lançou uma campanha para levar as empresas a mudar para raças de "crescimento mais lento". Desde então, reconheceu que o bem-estar do frango é mais complicado do que apenas a taxa de crescimento.

Agora está pressionando por um frango "melhor" e espera que o estudo ajude a definir o que isso implica.

Apenas uma pequena porcentagem de frangos nos EUA é certificada pela GAP.

Anne Malleau, diretora executiva do grupo, observa que alguns dos testes dos pesquisadores podem parecer exagerados. Mas ela disse que fornecer "enriquecimentos" --como locais onde as galinhas podem descansar ou se empoleirar-- também era visto como uma ideia marginal antes de se tornar mais aceita.

A Global Animal Partnership foi fundada há uma década com financiamento da Whole Foods, que ainda paga os salários de Malleau e de outro funcionário.

De volta a Guelph, os pesquisadores observam que algumas características do frango podem melhorar o mercado deles. Isso inclui comportamentos como a disposição de se envolver com uma minhoca falsa - que eles notam que pode ser mal interpretado como brincadeira e felicidade.

"Os pesquisadores ainda não sabem se as galinhas domésticas, com seus cérebros comparativamente menores, têm capacidade para brincar", disse Torrey.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Ao contrário do informado anteriormente, a Cobb não é subsidiária da Aviagen, apenas da Tyson. O texto foi atualizado.