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Coincidência ou destino, acaso ou sorte? Como explicar eventos aleatórios

Destinados um ao outro? Ou pura coincidência? - iStock
Destinados um ao outro? Ou pura coincidência? Imagem: iStock

Do UOL

19/03/2023 04h00

Certamente, já aconteceu com você: conhecer uma pessoa e descobrir que o aniversário dela é no mesmo dia que o seu, ou possuem o mesmo nome, ou têm vários amigos em comuns. Mera coincidência?

Há quem goste de dar explicações divinas ou sobrenaturais quando acontece algo do tipo, mas boa parte dos acasos pode ser facilmente explicada pela ciência.

Não existe uma razão profunda por trás da ocorrência das coincidências. É quase sempre uma questão de probabilidade, que pode, inclusive, ser calculada matematicamente.

Por exemplo: a probabilidade de que pelo menos duas pessoas, em um grupo de 15, façam aniversário no mesmo dia é de 25%. As chances aumentam para 97% em uma turma de 50 indivíduos.

A definição de coincidência é a ocorrência de dois ou mais eventos simultaneamente. Outro exemplo: quanto mais tentativas num jogo de dados, maior a possibilidade de que ela aconteça. Ao jogar 10 dados para o alto, a chance de todos caírem com o número 6 virado para cima é bem remota. Mas de tanto tentar, um dia isso acontecerá. E não será coincidência.

Teoricamente, o mesmo vale para quem ganha duas vezes na loteria. Improvável, mas não impossível. As probabilidades são proporcionais ao investimento em apostas.

Nem tudo são números

Mas, mesmo que a matemática consiga indicar qual a chance de um fato ocorrer, ela não sabe dizer por que algo acontece justamente com você. As pessoas tendem a achar que aquilo só acontece com elas. Fora do terreno dos cálculos, os cientistas consideram que há uma boa dose de egocentrismo nas coincidências.

Um mesmo evento pode, ainda, ter significados diferentes. Depende da percepção de cada indivíduo. O professor David Spiegelhalter, da Universidade de Cambridge, reuniu e analisou 4.470 histórias de coincidências. A maior parte dos relatos era relacionada a familiares ou amigos, o que mostra que as pessoas são mais propensas a notar acasos envolvendo entes mais próximos.

De acordo com a pesquisa, os cinco tipos mais comuns de coincidências relatadas foram: ter a mesma data de aniversário de alguém (11%); conexões envolvendo livros, TV, rádio ou notícias (10%); relacionadas às férias (6,1%); conhecer pessoas em trânsito - andando por aí, em aeroportos ou em transporte público (6%); relacionadas ao casamento ou aos sogros (5,3%).

A psicologia também tem suas explicações para as coincidências. O psicanalista Carl Gustav Jung descreveu o conceito de sincronicidade, que é uma "coincidência significativa", que parece ultrapassar o que seria esperado de um mero fenômeno probabilístico. Isso acontece, primeiramente e antes de mais nada, porque significa algo para alguém.

Para Jung, uma coincidência significativa pode ser explicada, entre outros níveis, por processos do inconsciente. Uma ocorrência pode ser entendida como sorte, infelicidade, anúncio profético ou meramente um fato incompreensível e sem importância.

Jung observava que existe o conhecimento científico tem méritos e limitações, mas existe uma realidade viva em cada pessoa que nasce nas profundidades de si mesmo, e isso não é passível de ser dissecado por ciência alguma.

Fontes: Marcelo Takeshi Yamashita, Instituto de Física Teórica da Unesp; Fernando Lang da Silveira, professor, Instituto de Física da UFRGS; Ricardo Pires de Souza, médico, Instituto Junguiano de São Paulo.