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Físico Marcelo Gleiser recebe o 'Nobel de espiritualidade'

Físico brasileiro Marcelo Gleiser recebe o prêmio apelidado de "Nobel da Espiritualidade", oferecido pela Fundação John Templeton - Divulgação/Fundação John Templeton
Físico brasileiro Marcelo Gleiser recebe o prêmio apelidado de 'Nobel da Espiritualidade', oferecido pela Fundação John Templeton Imagem: Divulgação/Fundação John Templeton

Helton Simões Gomes

Do UOL, em São Paulo

30/05/2019 11h50

A Fundação John Templeton entregou nesta terça-feira (29) o Prêmio Templeton de 2019, apelidado de "Nobel da Espiritualidade", ao físico brasileiro Marcelo Gleiser.

O professor de física e astronomia que leciona filosofia natural no Dartmouth College, em Hanover, nos Estados Unidos, se junta a outros laureados como Dalai Lama (2012), Madre Teresa de Calcutá (1973) e o Arcebispo Desmond Tutu (2013).

O prêmio tem o apelido de "Nobel da Espiritualidade" porque, segundo a fundação, "homenageia uma pessoa que fez uma contribuição excepcional para afirmar a dimensão espiritual da vida, seja por insights, descoberta ou trabalhos práticos".

Nessa linha, já foram premiados desde cientistas como Francisco J. Ayala, professor de ciência biológicas da Universidade da Califórnia reconhecido por suas pesquisas na área de genética evolucionista, até o pesquisador Michael Bourdeax, que estudou a destruição da religião nos países da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas que compunham a Cortina de Ferro.

Gleiser receberá 1,1 milhão de libras esterlinas (equivalente a R$ 5 milhões). Durante a premiação, realizada no Museu Metropolitano de Arte, diversas personalidades fizeram declarações sobre o trabalho de Gleiser, como o cônsul do Brasil em Nova York, Emanuel Lobo de Andrade, o reitor do Dartmouth College, Philip J. Hanlon, e a escritora Marilynne Robinson, vencedora do Pulitzer, um dos mais prestigiados prêmios de literatura do mundo.

Marcelo Gleiser propõe e demonstra uma reintegração da alegria primordial e da atenção na ciência como é praticada agora para reconhecer o antigo fascínio, inexplicável em si, que fez da humanidade uma raça de investigadores profundos
Marilynne Robinson, escritora e vencedora do prêmio Pulitzer

Engajamento com o misterioso

A fundação sediada em West Conshohocken, Pensilvânia, concede o prêmio desde 1973, por iniciativa do investidor e filantropo John Templeton (1912-2008).

Para a organização, o físico brasileiro cuja atuação não adota a "a noção de que apenas a ciência pode levar a verdades fundamentais sobre a natureza da realidade".

Ele, continua a fundação, "defende uma abordagem complementar ao conhecimento, especialmente em questões em que a ciência não pode fornecer uma resposta final".

Para Heather Templeton Dill, presidente da fundação, o que se destaca nas ações de Gleiser é a sensação de surpresa diante de cada possível descoberta:

O trabalho do professor Gleiser exibe uma inegável alegria pela exploração. Ele mantém a mesma sensação de maravilhamento contemplativo que experimentou pela primeira vez quando criança na praia de Copacabana, contemplando o horizonte ou o céu noturno estrelado, curioso sobre o que está além

A fundação lembra que Gleiser costuma dizer que a ciência pode ser descrita como o "engajamento com o misterioso".

Como ele escreve em A Ilha do Conhecimento, 'Maravilhamento e contemplação são a ponte entre o nosso passado e presente, e o que nos propele em direção ao futuro enquanto continuamos a procurar'.

Heather Templeton Dill

Gleiser considera que reflexões espirituais são ponto crucial para uma investigação completa do mundo.

"O caminho para a compreensão e a exploração científica não é apenas sobre a parte material do mundo, mas também é uma parte espiritual do mundo", diz Gleiser.

Minha missão é trazer de volta para a ciência, e para as pessoas interessadas na ciência, esse apego ao misterioso, para fazer as pessoas entenderem que a ciência é apenas mais uma maneira de nos envolvermos com o mistério de quem somos.

Gleiser