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Lula nunca falou tanto de Haddad; não existe elogio grátis

Lula nunca falou tanto de Fernando Haddad. No segundo trimestre deste ano, o presidente mencionou seu ministro da Fazenda em 31 discursos e entrevistas, mais do que o dobro do que no trimestre anterior. Um recorde. É bom ou ruim?

Em tese, quando Lula fala muito de alguém do seu time, isso é positivo. Uma década e meia atrás, Lula, então na reta final do seu segundo mandato, começou a citar cada vez mais a então pouco conhecida ministra Dilma Rousseff. O "Lulômetro" acabou por revelar, antes mesmo do anúncio oficial, que Dilma era a candidata do presidente à sua sucessão em 2010.

Desta vez, Lula é o candidato de Lula à própria sucessão. Mas já disse para Haddad que ele é seu "plano B". Se Lula não puder ou mudar de ideia sobre se recandidatar, apoiará Haddad. Também por isso, Haddad é o ministro citado por Lula em mais ocasiões. Mais do que o rival dele, Rui Costa (Casa Civil), e mais do que sua própria esposa, Janja. Mas não é só por isso.

O aumento nas menções a Haddad foi simultâneo à explosão de falas de Lula sobre taxa de juros, Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto. Essas declarações foram exploradas para intensificar um ataque especulativo ao real: o dólar subiu além do esperado, com risco de aumentar a inflação.

Lula não recuou, mas mudou de tática. Começou a falar mais bem ainda de Haddad - e de suas propostas de equilíbrio fiscal. Tudo como forma de contrabalançar os ataques repetidos aos juros altos e ao "presidente do Banco Central que herdei do Bolsonaro". Ou seja, falar bem de Haddad foi também um jeito de Lula dar uma satisfação ao mercado sem se retratar.

Por fim, os elogios recordes do presidente a Haddad tiveram um preço. Coube ao ministro e não a Lula anunciar o corte de R$ 25,9 bilhões no orçamento do governo federal em 2024, além de um "pente fino" nos programa sociais. As críticas nos grupos petistas nas redes focaram no ministro, não no presidente. Haddad virou escudo para Lula.

Não existe elogio grátis.

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