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Incerteza inédita sobre presidenciáveis em 2026 abre caminho para surpresas

A internação hospitalar de emergência e as intervenções cirúrgicas no presidente Lula, mesmo que muito bem-sucedidas, aumentaram em algumas ordens de grandeza a incerteza sobre a eleição presidencial de 2026. Ninguém é capaz de dizer hoje, com algum grau de confiança, quem serão os candidatos daqui a dois anos. Nem à esquerda, nem à direita. Nem sequer os próprios presidenciáveis sabem se permanecerão presidenciáveis até lá.

O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.

Jair Bolsonaro insiste no teatro de que estará apto a disputar a eleição, mesmo tendo sido declarado inelegível pela Justiça. Depois de seu indiciamento pela participação na tentativa frustrada de golpe de Estado, a chance do Congresso aprovar uma anistia para ele e seus seguidores tende a zero.

Mais ainda: se condenado, Bolsonaro poderá nem sequer estar livre para fazer campanha para quem ele vier a apoiar em 2026.

Outro presidenciável da direita, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, foi condenado por uma juíza eleitoral em primeira instância por abuso de poder na eleição de prefeito de Goiânia. Caiado vai recorrer ao Tribunal Regional Eleitoral e, segundo avaliação de analistas da política local, como a jornalista Fabiana Pulcineli, tem boas chances de reverter a condenação. Mesmo assim, sua condenação aumentou a incerteza à direita.

As eventuais ausências de Bolsonaro e Caiado na urna em 2026 são um incentivo para nomes como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, adiantarem seus planos e se lançarem ao Planalto daqui a dois anos. O mesmo vale para aventureiros como Pablo Marçal. Se o adversário à esquerda não for Lula, ainda mais.

O Plano A de Lula é ele próprio. Mas depois da desistência do presidente dos EUA, Joe Biden, de disputar a reeleição por questões de saúde ligadas à idade, um plano B tornou-se menos uma formalidade do que uma necessidade para o petista.

Lula terá 81 anos em 2026. É a mesma idade com que Biden começou sua campanha à reeleição, mas foi forçado a desistir após uma participação desastrosa em debate contra Donald Trump. Lembrar essa coincidência até pouco tempo atrás era um convite para ser acusado de etarismo. Mas a nuvem da política mudou rapidamente.

Lula não havia dado sinais de que poderia vir a enfrentar as mesmas dificuldades de Biden. Continua falando com desenvoltura e demonstrando energia. Mas aí veio o acidente doméstico e as coisas começaram a mudar. O presidente caiu no banheiro do Palácio do Alvorada ao cortar as unhas do pé e bateu a nuca violentamente. Precisou levar pontos na cabeça, mas o principal problema foi interno: uma hemorragia intracraniana.

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Com o passar das semanas, o acúmulo de sangue entre as membranas da meninge pressionou o cérebro do presidente e, como acontece nesses casos, ele começou a se sentir mal: dores de cabeça, sonolência e cansaço. Mesmo assim, adiou um exame de imagem que faria na semana passada. Na segunda-feira, o quadro clínico piorou, o presidente foi ao hospital, fez uma ressonância magnética e uma tomografia computadorizada. Os exames confirmaram que o coágulo dentro do crânio aumentara de tamanho.

Transferido para o Hospital Sírio Libanês em São Paulo, fez uma trepanação de emergência. Ou seja, os cirurgiões perfuraram o crânio do presidente para drenar o sangue acumulado. O procedimento foi bem-sucedido. Em dois dias, Lula já se levantara da cama e conversava normalmente. Nenhuma sequela cognitiva. Mas o drama persistiu.

Os médicos decidiram por um segundo procedimento, desta vez para evitar a recorrência da hemorragia, algo que acontece em 28% dos casos como o dele. A MMAE (embolização da artéria meníngea) é um procedimento minimamente invasivo, usado para tratar hematomas subdurais crônicos. Ajuda a reduzir o fluxo de sangue para a meninge, promovendo a estabilização ou a resolução do hematoma. Como funciona?

1) O cirurgião faz uma punção em uma artéria periférica, geralmente a artéria femoral ou radial. Por ela, é introduzido um cateter guia para acessar a circulação arterial.
2) Usando orientação por fluoroscopia (raios-x em tempo real) ou uma técnica similar, o cateter é guiado até a artéria meníngea média.
3) Após confirmar a posição correta, são injetados materiais embólicos, como partículas, cola biológica ou microesferas, para obstruir o fluxo de sangue. Esse bloqueio ajuda a reduzir a vascularização do hematoma e prevenir o reabastecimento de sangue para o hematoma.

Se bem-sucedida, a embolização por MMAE reduz em até 70% a chance de o paciente vir a sofrer com um novo hematoma subdural. O risco de haver complicações durante o procedimento é equivalente ao de uma endoscopia, entre 1% e 2%.

Para Lula, o risco compensa ao diminuir drasticamente a chance de ele ter que ser internado novamente no futuro e se submeter a outra trepanação por causa de uma nova hemorragia intracraniana - especialmente com a perspectiva de disputar a reeleição.

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O sucesso cirúrgico não garante, porém, que a percepção do público seja a de que está tudo bem com o presidente. Há quem torça contra. O dólar caiu e a Bolsa subiu com a notícia de que Lula faria a embolização. Ódio de classe ou especulação financeira à custa da saúde alheia? Difícil dizer.

Fato é que o próprio Lula sabe que precisa de um Plano B. O inesperado aconteceu e pode voltar a acontecer. O Plano B é Fernando Haddad. O ministro da Fazenda tem o mais importante, a preferência do presidente. Mas isso não basta. Se o Plano B tiver que ser acionado, Haddad precisará do aval do PT e, acima de tudo, de ter o que mostrar para convencer o eleitor.

Embora as estatísticas de emprego e renda sejam as melhores em uma década, a percepção da maioria dos brasileiros é outra. Não há sensação generalizada de bem-estar econômico nem otimismo. Ao contrário, a Faria Lima torce a age contra os planos do ministro sempre que eles diferem da ortodoxia monetarista e ultraliberal.

A incerteza médica veio se somar à incerteza econômica para criar uma incerteza eleitoral maior até do que a de 2018, quando a condenação e posterior prisão de Lula deixaram Haddad como estepe até a reta final da campanha presidencial. À época, embora o desejo da Faria Lima de eleger Geraldo Alckmin a fizesse acreditar em pensamento mágico, Bolsonaro já despontava como favorito à direita desde o ano anterior.

Para 2026, nem direita, nem esquerda e muito menos o centro têm um candidato líquido e certo. É o cenário ideal para surpresas.

Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky

A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. Na TV, é exibido às 16h. O Canal UOL está disponível na Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64) e no UOL Play.

Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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