A hora e a vez do 'humilde prodígio' do Rio
A ATP, empresa com nome de associação que gerencia o circuito profissional de tênis no mundo, está projetando o adolescente brasileiro João Fonseca como "prodígio humilde" do ATP Tour. Em texto publicado nesta quinta-feira (16), Fonseca é descrito como "apenas mais um menino do Rio vivendo seu sonho". Carioca ele é: criado em Ipanema, treinado no Country Club, em frente à praia.
João Fonseca começou seu primeiro ano como tenista profissional em 2024 com apenas 17 anos. Em 12 meses, saiu da 700ª posição no ranking para o Top 100: venceu dois torneios Challengers (tipo a "segunda divisão") e o Next Gen Finals — torneio lançado em 2017 pela ATP com regras inovadoras e disputado apenas pelos 8 melhores jogadores jovens (até 21 anos) do circuito.
O Next Gen é um teste para as promessas do tênis, mas também para o esporte: os sets são mais curtos (vence quem ganha quatro games), não tem vantagem quando os tenistas empatam em 40/40 no game, a arbitragem é automatizada (sem juiz de linha) e permite comunicação eletrônica entre técnico e jogador. O tempo de saque é controlado. Tudo é mais dinâmico, pensado para streaming.
Ao vencer o Next Gen e o Challenger seguinte, em Camberra (Austrália), João Fonseca chegou ao primeiro grande torneio do calendário do tênis profissional, o Aberto da Austrália, como a grande sensação da nova geração de tenistas. A máquina promocional da ATP comparou-o ao italiano Jannik Sinner, o primeiro colocado do ranking, que teve trajetória similar.
A aposta foi dobrada quando João Fonseca venceu os três jogos das qualificatórias do Aberto da Austrália sem perder um set sequer. E redobrada na primeira rodada da chave principal, após ele derrotar por 3 a 0 um dos dez melhores tenistas do mundo na arena principal do torneio diante de milhares de torcedores, muitos vestindo a "amarelinha" da seleção brasileira de futebol.
Era o que faltava para João Fonseca virar manchete em português e em inglês. Foi aí que o site da ATP Tour chamou-o de "prodígio humilde" e de "só mais um menino no Rio vivendo seu sonho".
No mesmo dia da publicação do texto, Fonseca perdeu na segunda rodada do Aberto da Austrália, e para um jogador que ele havia derrotado antes. A quebra de expectativa foi um banho de água fria, mas a derrota não ameaça a carreira do adolescente brasileiro. Longe disso. O tenista já é um produto de sucesso.
A família deu a João oportunidade para ele deslizar pelo saibro do Country Club e, depois, treinar e estudar nos Estados Unidos. Mas seus patrocinadores são ainda mais ricos e poderosos.
- XP Investimentos: Em junho de 2024, Fonseca firmou um contrato de cinco anos com a XP, uma das maiores instituições financeiras do Brasil. A marca passou a estampar sua camiseta a partir das eliminatórias de Wimbledon daquele ano.
- Rolex: Em agosto de 2024, João Fonseca anunciou sua associação com a Rolex, fabricante suíça de relógios de luxo, reconhecida por patrocinar grandes nomes do tênis mundial.
- ON Running: Marca suíça de produtos esportivos, cofundada por Roger Federer. João Fonseca foi um dos primeiros tenistas a receber esse apoio, ao lado de Iga Swiatek e Ben Shelton.
- JF Living: Construtora especializada em empreendimentos de luxo, que tem Jorge Felipe Lemann, filho do bilionário Jorge Paulo Lemann, como um dos sócios.
- Yonex Tennis: Fornecedora japonesa de material esportivo, responsável pelos equipamentos usados por João Fonseca.
Com Rolex num braço e pulseira de contas no outro, João Fonseca tem um jeitão boa praça fora das arenas. É educado e cumprimenta todo mundo; é descontraído nas entrevistas e simpático com jornalistas; emana simplicidade e diz que seu hobby é jogar baralho com a família e amigos. Por conselho do treinador, se abstém das redes sociais antes e depois das partidas.
Jogando, é expansivo, mas calmo. É agressivo nas raquetadas, mas não é de reclamar com juízes nem de destruir raquetes.
Os patrocínios demonstram que, além dos resultados excepcionais em quadra, o comportamento de João fora delas é aprovado pelo mercado. O combo esportivo-comportamental projeta a imagem de vitória sem arroubos. Como diriam na Faria Lima, performa bem.
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