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Pior momento de Lula aumenta incerteza sobre sua sucessão

Nunca antes na história dos governos Lula o momento foi tão ruim. Não é exclusivamente pelo inédito saldo negativo na avaliação da sua gestão - pior até do que no auge do mensalão, 20 anos atrás. Tampouco é só pela perda de apoio entre os mais pobres. Nem é por causa da recente crise do Pix ou pelo desastrado anúncio de intervenção no preço dos alimentos apenas. O pior momento de Lula é fruto da falta de rumo do governo.

Se há direção, não está dando para ver qual é. Dentro do barco - à mercê das correntes de desinformação, das ondas algorítmicas e das marés do mercado - o pessimismo cresce entre os passageiros. E vira preocupação quando veem a tripulação batendo cabeça.

Enquanto o Ministério da Fazenda rema para um lado, a Casa Civil vira o leme para o outro. A área econômica diz, corretamente, que a inflação de alimentos é reflexo do dólar sobrevalorizado; enquanto isso, o Palácio do Planalto anuncia que vai colher sugestões do mercado para intervir nos preços. Depois recua. De novo (como já recuara na fiscalização do Pix).

Se cada remador mete a pá num sentido diferente, o barco enche d'água. Nesses casos, o destino mais provável da embarcação não é nenhuma das margens, mas o fundo.

Da colheita de opiniões desencontradas só sobram incerteza, precipitação e vaivém decisório. À crescente impressão de que os marujos não concordam nem sequer sobre o diagnóstico do que está errado soma-se a suspeita de que o capitão não tem certeza se o problema é a comunicação, a gestão ou a própria marujada. Daí uma reforma ministerial sempre cogitada, mas nunca executada.

Lula anunciou pessoalmente que todas as medidas normativas tomadas por centenas de órgão dos seus 37 ministérios deviam ser enviadas à Casa Civil para avaliação antes de serem publicadas no Diário Oficial - para evitar "problema pra gente".

O D.O. continua saindo todo dia. Nenhum dos ministérios consultados disse ter mudado sua rotina burocrática. Por ora, nada se moveu no fluxo decisório. Talvez seja melhor assim. Antes um governo desencontrado do que um governo parado.

Se a voz de comando não foi ouvida, é porque talvez não fosse para ser mesmo, era blábláblá. Melhor isso do que a alternativa.

O momento ruim se torna ainda pior por causa do timing. Como diz o próprio Lula, a disputa sucessória de 2026 já está correndo solta, principalmente do lado da oposição. No governo, porém, o que mais avança é a incerteza. Lula sinalizou outra vez aos ministros que talvez não seja candidato em 2026. Mais blábláblá?

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Pode ser, mas é também um jeito de Lula sondar os interlocutores. Medir a ênfase de suas respostas ao dizerem que ele precisa ser candidato à reeleição.

A cada sondagem dessas, porém, aumenta a especulação sobre o cenário contrário. E as dúvidas se multiplicam:

  1. Se as pesquisas de avaliação do governo continuarem mostrando saldo negativo na opinião pública, será que Lula estará disposto a arriscar terminar a carreira com uma derrota?
  2. Se Lula desistir de concorrer, quando tomará essa decisão?
  3. Quem será o seu candidato?
  4. Fernando Haddad é o franco favorito a sucessor de Lula, mas será que o ministro conseguirá unir o PT e manter a aliança político-partidária que elegeu Lula em 2022?
  5. Seja quem for o candidato, qual será mote da campanha? Quais motivos terão os eleitores para dar mais uma chance ao PT?

Nenhuma das perguntas sobre o capitão tem resposta óbvia. Quanto maior a incerteza, mais voluntarismo e menos coordenação entre os marujos. O risco de naufrágio aumenta.

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