'Salve' do Comando Vermelho provoca foguetório e assassinato na Amazônia
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Uma visita técnica realizada pelos dirigentes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública ao Amazonas revelou o dramático cenário do crime organizado na região. O presidente Renato Sérgio de Lima e a diretora-executiva Samira Bueno percorreram cidades estratégicas como Tabatinga, Benjamin Constant e Atalaia do Norte, constatando in loco as fragilidades no combate ao crime organizado.
Em uma demonstração de poder territorial, o Comando Vermelho (CV) promoveu na última segunda-feira (10) uma celebração de seus "cinco anos de gestão inteligente no estado do Amazonas", conforme comunicado distribuído pela facção. O evento culminou em uma queima de fogos simultânea em diversas cidades, incluindo Tabatinga, Manaus e Coari.
Em Coari, cidade estratégica na rota do Solimões e único município que ainda resiste ao domínio do CV, a comemoração terminou em tragédia. Um homem ligado à facção foi assassinado por rivais do PCC enquanto tentava disparar fogos de artifício.
A resistência do PCC em Coari conta com aliados inusitados: os piratas dos Solimões, grupo formado principalmente por ex-policiais que se especializaram em assaltar embarcações. "Eles se especializaram em fazer a abordagem, o assalto, em roubar a mercadoria. E o PCC se especializou em distribuir o butim", explicou um dos pesquisadores.
A situação é agravada pela falta de estrutura das forças de segurança. Em Tabatinga, maior cidade da fronteira, há apenas 80 policiais militares no efetivo total, significando cerca de 20 agentes por turno nas ruas. Embora exista um batalhão do Exército com aproximadamente mil militares na região, sua presença é pouco notada nas ações de segurança.
A infraestrutura precária também compromete o trabalho policial. As bases flutuantes de vigilância no rio Solimões, por exemplo, têm vida útil limitada devido à forte correnteza. "Após dois, três anos, ela não existe mais. Ela vai furando o casco só pelo atrito da água", relataram os pesquisadores.
O cenário pode se agravar nas próximas semanas com a iminente soltura de Melchorá, ex-comandante da Família do Norte (FDN). Há temores de uma nova guerra do tráfico, já que, segundo a polícia, o CV "trucidou toda a família dele" após dominar e absorver a FDN.
A dimensão territorial do estado — equivalente a três Ucrânias ou maior que França, Espanha, Portugal e Alemanha somados — amplifica os desafios. Uma viagem de Manaus a Tabatinga, por exemplo, leva duas horas de jato, quatro horas de monomotor ou uma semana de barco regional.
Os especialistas alertam para a necessidade urgente de um plano coordenado entre os entes federativos e cooperação internacional, especialmente considerando que em algumas áreas, como na fronteira com a Colômbia, os limites entre países são apenas ruas, onde "você sabe que está em Tabatinga quando os motoqueiros não usam capacete, e em Letícia [Colômbia] quando eles usam".
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