Ida ao cinema cresce, mas não chega ao nível pré-pandemia no Brasil
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Uma pesquisa detalhada sobre hábitos culturais dos brasileiros, realizada pelo instituto J.Leiva em parceria com o Datafolha, revela que o setor cinematográfico ainda não se recuperou completamente dos impactos da pandemia de Covid-19. O levantamento, que abrangeu todas as capitais brasileiras, oferece um panorama amplo do consumo cultural no país.
O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.
Os dados mostram uma queda acentuada na frequência ao cinema em relação a 2019, com uma recuperação gradual que ainda não atingiu os patamares pré-pandêmicos. Tanto os dados da pesquisa quanto as informações da Ancine (Agência Nacional do Cinema) indicam uma lenta retomada do setor. As projeções para 2024 sugerem um crescimento "menos de 10%, talvez no máximo 10%" em relação a 2023, mas ainda abaixo dos números de 2019.
Para José Roberto de Toledo, o Brasil teve dois vírus que prejudicaram o mercado cultural, em especial o cinema: o coronavírus e o Bolsonaro. "E juntos eles provocaram um estrago ainda maior", afirmou.
A pandemia afetou profundamente a estrutura da indústria cinematográfica nacional. Houve uma desestruturação da produção e uma mudança profunda dos hábitos de consumo, aponta o estudo. Enquanto outras manifestações culturais, como shows musicais, tiveram recuperação mais rápida, o cinema sofreu com a migração do público para as plataformas de streaming.
Um dos dados mais reveladores da pesquisa é o abismo geracional no consumo de cinema. Entre jovens de 16 a 24 anos, 74% (três em cada quatro) afirmam ter ido ao cinema no último ano, e apenas 6% nunca frequentaram salas de exibição. Em contraste, apenas 26% das pessoas com 60 anos ou mais foram ao cinema no mesmo período, e 16% nunca assistiram a um filme em uma sala de exibição.
Esse perfil demográfico influencia diretamente o mercado, privilegiando comédias como gênero de maior sucesso comercial. "O mercado brasileiro é um mercado que privilegia a comédia, isso é uma tradição que vem de longo tempo", contextualizou Toledo, citando sucessos como os filmes dos Trapalhões, produções de Paulo Gustavo e, mais recentemente, "O Auto da Compadecida 2".
Nesse cenário, o sucesso de um drama como "Ainda Estou Aqui", vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional, representa uma exceção. Segundo fontes do setor, o filme dirigido por Walter Salles alcançou números expressivos de bilheteria, mas Toledo alerta que não se deve esperar uma revolução no mercado a partir de um único título.
"Não é a responsabilidade do 'Ainda Estou Aqui' revolucionar o cinema brasileiro", ponderou o colunista, que vê o filme como uma oportunidade para atrair um público mais adulto às salas. Para ele, a mudança estrutural só vai acontecer quando tiver "sistemas de financiamento eficazes, eficientes, que atendam a demanda do público e ofereçam cinema de qualidade."
Thais Bilenky conversou com Felipe Poroger, roteirista e curador do festival Finos Filmes, que ressaltou que "o reconhecimento da qualidade do cinema brasileiro nunca se perdeu". O problema, segundo ele, está nas condições políticas e dificuldades de produção, não na falta de talento.
Para Bilenky, 'Ainda Estou Aqui' injeta ânimo em quem faz cinema e também na população em acompanhar o que está sendo feito. "Acho que é um momento de virada, que pode virar alguma coisa nova com o primeiro Oscar que o Brasil recebeu na história", afirmou a colunista.
Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky
A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. Na TV, é exibido às 16h. O Canal UOL está disponível na Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64) e no UOL Play.
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