Trump declara guerra à baunilha e bagunça comércio mundial
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As novas tarifas alfandegárias anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, anunciadas no que ele chamou de "dia da libertação", estão provocando turbulência nos mercados globais e gerando preocupação entre economistas e parceiros comerciais dos Estados Unidos.
O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.
"Na verdade, foi o dia da destruição", afirma José Roberto de Toledo, ao comentar o pacote de tarifas que incidirá sobre centenas de parceiros comerciais dos EUA, desde pequenas ilhas até grandes potências como a China.
A medida segue uma lógica que muitos analistas consideram incompreensível: subtrai-se o quanto um país exporta para os EUA daquilo que esse mesmo país importa dos americanos. Se houver déficit para os EUA, o país sofrerá taxação.
"Tem até uma suspeita de que foi feita com o auxílio do ChatGPT, de tão esdrúxula que ela é", diz Toledo sobre a fórmula utilizada para calcular as taxas, que ignora princípios básicos de reciprocidade comercial.
Um dos aspectos mais surpreendentes da nova política é que o país mais sobretaxado é o Lesoto, nação africana que exportou apenas US$ 237 milhões para os EUA (basicamente em malhas de crochê e pedras preciosas), valor considerado insignificante quando comparado aos US$ 3 trilhões que os EUA importam anualmente.
Outro caso emblemático é Madagascar, maior produtor mundial de baunilha, responsável por 54% da produção global. O país foi sobretaxado em 47%, o que significa que sua baunilha ficará quase 50% mais cara para entrar nos Estados Unidos.
"Madagascar vai sobrar baunilha, porque com esse 47% mais caro, talvez os importadores americanos não queiram toda essa baunilha, e vai sobrar baunilha em Madagascar, vai cair o preço da baunilha. Haverá impactos econômicos e sociais muito negativos em Madagascar", alerta o colunista.
A nova política tarifária deve estimular triangulações comerciais. Países com tarifas menores, como o Brasil (que recebeu apenas a tarifa básica de 10%), poderão importar produtos de nações mais taxadas e reexportá-los para os EUA.
"Vamos importar essa baunilha mais barata que vai estar sobrando lá em Madagascar e vamos exportar para quem? Para os Estados Unidos. Porque o Brasil só tem uma sobretaxa de 10%", exemplifica Toledo, mostrando como as triangulações se tornarão comuns no comércio exterior.
As novas tarifas apresentam contradições inexplicáveis. Enquanto a China recebeu sobretaxa de 44% e a União Europeia mais de 30%, a Rússia permaneceu apenas com os 10% básicos, apesar de exportar cerca de US$ 3 bilhões para os EUA, principalmente em fertilizantes.
O mercado já reage com quedas dramáticas nas bolsas de valores, com as americanas caindo mais que as europeias, brasileiras, chinesas e japonesas, indicando que os próprios EUA serão os maiores prejudicados. "É um tiro no pé, um enorme tiro no pé que já tem consequências. A taxa de juros americana já está caindo, os juros futuros, a previsão do mercado, por reflexo, a taxa de juros do Brasil também já está caindo", diz Toledo.
O JPMorgan, maior banco americano, já publicou relatório afirmando que "estamos à beira de uma recessão" e que o risco "aumentou exponencialmente". Se uma recessão se confirmar, os EUA podem ser forçados a cortar taxas de juros, o que teria efeito cascata global. "A chance de se voltar contra a economia americana é muito grande", conclui o colunista, destacando a imprevisibilidade dos desdobramentos dessa medida que promete redesenhar o mapa do comércio internacional.
Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky
A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. Na TV, é exibido às 16h. O Canal UOL está disponível na Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64) e no UOL Play.
Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados.
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