A Hora

A Hora

Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Motta tenta tomar a anistia das mãos de Alcolumbre

O presidente da Câmara, Hugo Motta, iniciou uma disputa com o Senado pela condução do projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Na segunda-feira, Motta convocou uma reunião com líderes partidários para discutir a possibilidade da Câmara tramitar um projeto de anistia, algo que ele chamou de "anistia modulada".

O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.

A movimentação surpreende porque, até a semana passada, o protagonismo estava nas mãos do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que havia negociado com ministros do Supremo um projeto que previa a absorção de um crime pelo outro para amenizar as penas dos condenados pelo 8 de janeiro. Agora, com essa iniciativa, a Câmara de Hugo Motta parece enviar um recado claro: "espera aí, a gente também tem aqui... Quem manda aqui sou eu".

Na reunião convocada por Motta ficou claro que ele tem bastante apoio dos partidos do Centrão, porém enfrenta a resistência de duas das maiores bancadas: do PL do Bolsonaro e do PT do Lula.

Dr. Luizinho, líder do PP, afirmou que seria um projeto, "em tese", bastante semelhante ao do Senado. A base para a negociação, segundo Thais Bilenky, é um texto do deputado Fausto Pinato (PP-SP) que, diferente do projeto do Senado, "não tinha a digital, inicialmente, do Supremo Tribunal Federal".

O líder petista Lindbergh Farias demonstrou pouco interesse na proposta da Câmara. Em contraste, o PL quer ir além de simplesmente reduzir penas para quem já cumpriu dois anos de prisão pelo 8 de janeiro. O partido bolsonarista busca um projeto que anistie completamente todos os envolvidos, incluindo os mandantes e organizadores - grupo que, segundo as investigações, inclui o próprio Bolsonaro.

Para José Roberto de Toledo, esse movimento do PL seria uma tentativa de "ferrar de vez com a democracia brasileira", refletindo a posição defendida por Sóstenes Cavalcante e pelo partido. O PT, por sua vez, argumenta que o ambiente da Câmara não inspira confiança porque a correlação de forças ali pende muito mais para o lado bolsonarista do que no Senado.

Apesar dos gestos iniciais de conciliação, existe uma crescente desconfiança em relação a Hugo Motta nos círculos políticos de Brasília. Essa suspeita deriva principalmente de sua estreita ligação com Ciro Nogueira, presidente do Partido Progressista e notório aliado de Bolsonaro. A avaliação, feita por Bilenky nos bastidores, é que a independência de Motta fica severamente comprometida quando surgem temas sensíveis política e eleitoralmente para o bolsonarismo.

Na arena política, as ações têm muito mais peso que as palavras, e todas as movimentações do presidente da Câmara nesta semana apontam para um alinhamento com as posições bolsonaristas e contra os interesses do governo federal. "Se na semana que vem ele fizer alguma coisa no sentido oposto para compensar o que ele fez nessa semana, a gente volta a falar sobre isso", diz Toledo.

O colunista do UOL afirma que Motta não parece confortável em seu cargo, demonstrando desconforto com a necessidade de tentar equilibrar interesses conflitantes de diversos grupos políticos. "Você não olha pro Hugo Motta e fala, 'vou fechar um acordo com esse cara e ele vai respeitar até o fim'", completa.

Continua após a publicidade

Quanto aos prazos, o tempo trabalha contra os interesses bolsonaristas. Enquanto o projeto de anistia se arrasta no Congresso, o processo contra Bolsonaro e outros acusados continua tramitando no Supremo. No STF, existe a expectativa de concluir o julgamento ainda este ano já que em 2026, com as eleições, o cenário político mudará completamente, complicando ainda mais a situação jurídica dos envolvidos.

Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky

A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. Na TV, é exibido às 16h. O Canal UOL está disponível na Claro (canal nº 549), Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64), Samsung TV Plus (canal nº 2074) e no UOL Play.

Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.