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Crise do INSS aumenta bateção de cabeça no governo

A demissão do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, presidente do PDT, em pleno feriado prolongado de 1º de maio, não conseguiu conter os estragos da crise do INSS e evidenciou a falta de coordenação entre ministros do governo Lula.

O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.

Mesmo sendo um partido com peso político eleitoral pequeno na Câmara dos Deputados, responsável por menos de 5% dos votos do governo, a saída de Lupi gerou várias crises simultâneas. Para substituí-lo, Lula optou por deixar como titular o número 2 do ministério, Wolney Queiroz, um ex-deputado federal mais ligado ao presidente.

A comunicação do governo também demonstra desorganização no enfrentamento da crise. A Voz do Brasil, que atinge 70 milhões de pessoas, sobretudo pessoas que moram e ouvem rádio nos rincões do país, e sobretudo pessoas mais velhas, entre elas diversos aposentados, só foi utilizada como instrumento de esclarecimento duas semanas depois do início da crise.

Enquanto isso, nas redes sociais, a oposição domina o debate público. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) publicou um vídeo sobre o INSS falando que era o maior escândalo de corrupção da história do Brasil, que alcançou mais de 100 milhões de visualizações em 24 horas, expondo a fragilidade da estratégia de comunicação governamental.

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, agravou a situação ao dar uma entrevista praticamente responsabilizando o ministro da CGU Vinícius Carvalho pela crise, "dizendo que a Controladoria-Geral da União, diferentemente da Polícia Federal, que tem que preservar o sigilo da investigação para terminar, encerrá-la e apontar os responsáveis, a CGU deveria ter, dois anos atrás, em 2023, avisado todo mundo para ter interrompido lá atrás esses desvios. Como se fosse assim que as coisas funcionassem", ironiza Thais Bilenky.

Essa declaração foi vista como problemática por várias razões, destaca José Roberto de Toledo: "Qual é a mensagem que você está passando quando diz isso? Você está dizendo que não é para investigar. Porque se o cara responsável pela investigação, se o cara que descobriu que tinha uma sacanagem, é o cara que está errado? Então, você está falando a favor de quem?".

A falta de coordenação governamental é apontada como o principal problema. Para o colunista do UOL, se tem alguém que tinha que assumir responsabilidade nesse caso é a Casa Civil. "Porque ela é responsável por fazer a coordenação dos ministérios", explica. Além disso, o foco da discussão deveria estar no ressarcimento dos aposentados afetados: "A única maneira do governo diminuir, fazer uma política de contenção de danos, é começar a ressarcir quem foi prejudicado", completa Toledo.

A crise expõe ainda a disputa política pela responsabilidade do problema e a ineficácia da resposta governamental: "Eles tomam atitudes que poderiam ter sido tomadas muito antes. Cai o ministro e isso não interrompe nada, não alivia em nada a crise política", opina Bilenky.

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A "bateção de cabeça" no governo contrasta com outros temas importantes que acabam ficando em segundo plano, como o programa de data centers que o governo deve lançar para atrair investimentos estrangeiros. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esteve na Califórnia, onde conseguiu uma resposta positiva das grandes empresas de tecnologia. Durante as reuniões com executivos da Amazon, Google e Nvidia, a apresentação da reforma tributária brasileira, que isenta de impostos grande parte dos investimentos em infraestrutura tecnológica, foi bem recebida e abriu caminho para negociações promissoras.

No entanto, a comunicação do Palácio só estava preocupada em responder o Nikolas Ferreira, deixando de lado temas como inteligência artificial, marco regulatório das big techs, coisas que realmente afetam o dia a dia das pessoas. Essa desorientação seria reveladora de uma deficiência intrínseca do governo. "Quando você não tem uma Casa Civil que opera, que funciona, dificilmente o governo vai ter sucesso", finaliza Toledo.

Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky

A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. Na TV, é exibido às 16h. O Canal UOL está disponível na Claro (canal nº 549), Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64), Samsung TV Plus (canal nº 2074) e no UOL Play.

Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados.

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