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Tarcísio ganha batalha no Supremo e simpatia do centrão

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, teve uma semana positiva em diferentes frentes. Enquanto o governo federal enfrentava crises, o ex-ministro de Bolsonaro conquistou uma importante vitória no Supremo Tribunal Federal relacionada às câmeras corporais da Polícia Militar e viu seu nome ganhar força como possível candidato à Presidência para 2026.

O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.

Tarcísio conseguiu fechar um acordo no STF com a Defensoria Pública do Estado de São Paulo e entidades da sociedade civil sobre as câmeras nas fardas dos policiais. Em dezembro passado, o presidente do Supremo, ministro Barroso, havia concedido uma liminar suspendendo a execução de um contrato do governo paulista com a Motorola para substituir as câmeras existentes.

A Defensoria argumentava que o novo modelo não seria mais acionado automaticamente quando o policial vestisse a farda, o que poderia impactar negativamente a violência policial. Após várias reuniões, foi fechado um acordo que favorece o governador, permitindo a implementação das câmeras da Motorola.

Pelo acordo, haverá acionamento remoto das câmeras, mas exclusivamente pelo Copom (Centro de Operações da Polícia Militar). O problema é que a maioria das ocorrências que resultam em mortes por policiais não é originada pelo Copom, mas por iniciativa do próprio policial durante o patrulhamento ostensivo. Estas situações ficarão fora do controle automático.

Também foi incluído o acionamento por proximidade, via Bluetooth, quando um policial com câmera ligada se aproxima de outros agentes. Contudo, essa solução apresenta falhas porque geralmente os policiais envolvidos em ocorrências letais estão sozinhos ou, quando em grupo, poderiam coordenar para manter as câmeras desligadas.

As estatísticas de letalidade policial em São Paulo já mostram tendência preocupante, mesmo com as câmeras em funcionamento automático: em janeiro foram 43 mortos pela polícia, em fevereiro 56, em março 70 e em abril 72. "É uma escadinha, está crescendo, mesmo com as câmeras com funcionamento automático. Imagina o que vai acontecer sem funcionamento automático, com o policial podendo ligar ou desligar sozinho", questiona José Roberto de Toledo.

Para o colunista do UOL, os mecanismos de controle acordados são frágeis, para dizer o mínimo. "A eficácia deles vai ser colocada à prova e eu temo que não vão passar nessa prova", opina. A Polícia Militar insiste que os indicadores devem ser proporcionais e não absolutos, mas Toledo argumenta que cada vida perdida deveria ser contabilizada independentemente de proporções estatísticas.

O acordo ocorreu em um contexto em que Tarcísio conseguiu aprovar na Assembleia Legislativa um aumento de benefícios para a elite do funcionalismo público paulista, incluindo membros do Ministério Público. Embora não haja confirmação de relação entre os fatos, o timing levantou questionamentos.

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Segundo Toledo, a mudança representa um retrocesso. "Isso é só o começo. Porque é uma política deliberada, ou seja, se você é preto, pardo, para usar o linguajar do IBGE, e mora na periferia, seu risco de morrer morto pela polícia aumentou", alerta o colunista. Ao mesmo tempo, cresce a especulação sobre uma possível chapa presidencial bolsonarista para 2026 encabeçada por Tarcísio, tendo Michelle Bolsonaro como vice.

O deputado Filipe Barros (PL-PR), embora ainda defenda a candidatura de Bolsonaro, já faz menções positivas a Tarcísio, indicando uma sutil mudança de discurso entre os que antes insistiam não haver plano alternativo ao ex-presidente. O PL tem encomendado pesquisas para medir a viabilidade eleitoral de Tarcísio e Michelle, esta última sendo testada com mais frequência que os próprios filhos de Bolsonaro.

Esses movimentos são interpretados como resultado da pressão do centrão para que Bolsonaro apoie Tarcísio. Lideranças do bloco têm sinalizado que, se Bolsonaro insistir em apoiar o filho Eduardo, poderiam mudar de lado. Embora ainda sejam sinais sutis, indicam uma possível reconfiguração do campo conservador para as próximas eleições presidenciais.

Enquanto o governo federal acumula crises e oportunidades perdidas por falta de coordenação, o governador paulista consolida sua posição e amplia suas perspectivas políticas, dando maior esperança ao campo bolsonarista para recuperar espaço no cenário nacional.

Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky

A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. Na TV, é exibido às 16h. O Canal UOL está disponível na Claro (canal nº 549), Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64), Samsung TV Plus (canal nº 2074) e no UOL Play.

Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados.

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