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Rui Costa dá sinal verde, e Senado aprova 'autolicença' ambiental

O Senado aprovou um projeto que estabelece o licenciamento ambiental autodeclaratório no Brasil, permitindo que empreendedores concedam licenças a si próprios. A aprovação aconteceu após articulação reservada entre o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e a relatora Tereza Cristina, sem participação do Ministério do Meio Ambiente.

O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.

O projeto é chamado de a mãe de todas as boiadas", diz Thais Bilenky ao analisar o projeto que organizações ambientais conseguiram barrar durante toda a gestão Bolsonaro. "É um projeto que estava sempre sendo muito monitorado", conta a colunista, lembrando um alerta de uma ex-presidente do Ibama temos atrás: "Foi todo mundo para Dubai, para COP, e eu vou ficar aqui porque a gente não pode piscar que eles mexem com esse projeto."

Segundo Bilenky, o texto aprovado estabelece a autolicença ambiental, em que o responsável pelo empreendimento se compromete a respeitar as condições ambientais preenchendo um formulário e quase que concedendo a licença a si, dispensando a análise prévia dos órgãos ambientais. Como resume José Roberto de Toledo: "O grileiro desmatador vai lá e diz: 'eu sou bonzinho e vou fazer tudo de acordo com a lei', e vai lá e, obviamente, não cumpre nada do que escreveu."

A tramitação foi marcada por manobras inusitadas. O projeto tinha dois relatores simultâneos: Confúcio Moura (MDB-RO) na Comissão de Meio Ambiente e Tereza Cristina (PP-MS) na Comissão de Agricultura. Inicialmente, Moura apresentou um relatório "bastante razoável", segundo Marina Silva. Porém, após um ano e meio de aparente paralisia, tudo mudou.

Em 6 de maio, Tereza Cristina apresentou um relatório completamente diferente. "No dia seguinte, o Confúcio apresenta outro relatório, bastante diferente daquele que ele apresentou antes, e muito parecido com o relatório da Tereza Cristina", relata Bilenky.

O desfecho veio de forma acelerada. Alcolumbre apresentou uma emenda que era desconhecida, até então, estabelecendo "uma licença ambiental especial para projetos estratégicos, como a exploração de petróleo na margem equatorial, da Foz do Amazonas".

A motivação é clara para o presidente do Senado: "Os royalties iriam para o estado dele", aponta Toledo sobre a exploração petrolífera no Amapá.

A articulação final envolveu reunião entre Alcolumbre, Tereza Cristina e Rui Costa, sem a participação do Ministério do Meio Ambiente. Segundo apuração de Bilenky, a Casa Civil justificou que, se não cedesse, o governo sairia ainda mais derrotado. E já definiu que tampouco na Câmara vai se opor frontalmente à matéria.

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Na votação no Senado, houve resistência pontual do PT, mas o placar foi esmagador: 13 votos contrários contra mais de 50 favoráveis.

O impacto preocupa especialistas. Marina Silva alertou que o projeto "pode impedir a assinatura do acordo do Mercosul com a União Europeia", enquanto o secretário-executivo Capobianco afirmou que "isso simplesmente acaba com o licenciamento ambiental no Brasil".

A ampliação do escopo é crítica. Se inicialmente abrangia apenas empreendimentos de baixo impacto, agora inclui empreendimentos de pequeno e médio porte e baixo ou médio risco ambiental.

O Supremo já limitou o autolicenciamento apenas a empreendimentos pequenos. "É um texto que deve ser judicializado", prevê Bilenky.

A ironia não passou despercebida: "Conseguiu segurar durante todo o governo Bolsonaro, com Ricardo Salles, e vai aprovar agora no governo Lula", observa a colunista.

O projeto segue para a Câmara, e se for aprovado novamente, consolida o que ambientalistas consideram o maior retrocesso na legislação ambiental brasileira dos últimos anos.

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Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky

A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. Na TV, é exibido às 16h. O Canal UOL está disponível na Claro (canal nº 549), Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64), Samsung TV Plus (canal nº 2074) e no UOL Play.

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