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Congresso diz ao governo que não aumenta imposto, mas eleva conta de luz

O Congresso Nacional derrubou na terça-feira uma série de vetos presidenciais que resultarão no aumento da conta de luz dos brasileiros, contrariando o discurso de parlamentares que se opõem a medidas do governo federal sob o argumento de evitar onerar mais o contribuinte.

O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui

"Quer dizer que eu vou pagar mais caro a minha conta de luz e a culpa não é minha, não é sua, é de quem?", questiona José Roberto de Toledo no podcast. "O argumento do Congresso, para se opor a essas medidas propostas pelo Ministério da Fazenda e pelo governo Lula, sempre é que não quer aumentar imposto, não quer onerar mais o contribuinte. Mas essa semana, eles tomaram decisões que vão justamente onerar o contribuinte", completa Thais Bilenky.

As decisões foram tomadas durante uma sessão do Congresso Nacional presidida por David Alcolumbre, onde Câmara e Senado votam juntos em assuntos de competência conjunta. Os vetos derrubados estavam relacionados a um projeto que originalmente visava estimular a geração de energia eólica em alto mar, mas que acabou recebendo "jabutis" - emendas que incluem temas não relacionados ao projeto original.

Segundo cálculos da Frente Nacional dos Consumidores de Energia e da Abrace (Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres), as mudanças aprovadas representarão um custo de 200 bilhões de reais até 2050, ou um aumento de 3,5% na conta de luz de cada consumidor.

Os "jabutis" que passaram com a derrubada dos vetos surpreenderam não apenas o setor energético, que esperava pela postergação da discussão, mas também o Ministério de Minas e Energia, cujo titular Alexandre Silveira havia negociado um cronograma diferente para a análise das propostas.

Entre as medidas aprovadas estão três pontos principais que justificam o aumento das tarifas. O primeiro é a obrigatoriedade de contratação de energia de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), independentemente da demanda. "Hoje, você já contrata energia de PCH, mas o que o governo estava sugerindo é que você aumentasse a contratação sob demanda. Com o projeto, com a derrubada dos vetos, vai ficar obrigado a contratar mais, independentemente da demanda do consumo de energia", explica Bilenky, acrescentando que isso custará 140 bilhões de reais até 2050.

O segundo "jabuti" aprovado foi a obrigação de contratação de hidrogênio líquido produzido a partir do etanol da região Nordeste. O problema, segundo a colunista do UOL, é que essa tecnologia de hidrogênio líquido a partir do etanol é incipiente no Brasil e no mundo. "Ou seja, não se faz energia em quantidade a partir de hidrogênio líquido ao ponto de justificar essa contratação", diz ela.

O terceiro ponto foi a renovação do PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), criado em 2002 para contratos de 20 anos com usinas eólicas, PCHs e usinas de biomassa. O programa cumpriu seu objetivo de diversificar a matriz energética e havia sido encerrado, mas o Congresso derrubou o veto presidencial e renovou os contratos. "O governo vetou a renovação desses contratos, entendendo que agora a regra do livre-mercado serviria para manter os preços mais justos. E o Congresso derrubou o veto renovando esses contratos, beneficiando quem já está com o contrato vigente", continua Bilenky.

Segundo a colunista, David Alcolumbre realizou negociações com grandes entidades do setor energético e do etanol na véspera da votação, em sua residência oficial, justamente com representantes que tinham interesse em estender a vigência dos contratos.
A situação ganha contornos ainda mais paradoxais considerando que o Brasil sediará a COP (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) em Belém. Às vésperas da conferência do clima, o país aprovou uma série de medidas que incentivam o consumo de combustíveis fósseis, "que é justamente o tema da COP pelo motivo inverso", ironiza Bilenky.

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Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky

A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. O Canal UOL está disponível na Claro (canal nº 549), Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64), Samsung TV Plus (canal nº 2074) e no UOL Play.

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