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OPINIÃO

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A importância de Mais Mulheres na Política

Evento A Política do Futuro: Mulheres no Poder na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo - Luiza Pollo/Colaboração para o UOL
Evento A Política do Futuro: Mulheres no Poder na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo Imagem: Luiza Pollo/Colaboração para o UOL

Débora do Carmo Vicente. Mestre em Direito pela UFRGS, servidora da Justiça Eleitoral, Coordenadora da Comissão de Participação Feminina Institucional do TRE-RS, membro da ABRADEP.

25/02/2022 04h00

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Essencial para a segurança, o airbag é obrigatório em todos os carros novos vendidos nos EUA desde 1998. Contudo, quando implantado, uma trágica consequência foi identificada: mulheres e crianças eram 50% mais suscetíveis a mortes e lesões graves.

Após investigações, verificou-se que o time de engenheiros homens que desenhou o airbag utilizou como padrão suas alturas e pesos, colocando em risco mulheres e crianças. O mesmo erro se repetiu na tecnologia de reconhecimento de voz. Concebido por equipes masculinas, o sistema era calibrado para suas vozes, falhando nos testes de reconhecimento de vozes femininas. Estudos mostram que até hoje o reconhecimento facial e de voz tende a ser mais preciso para homens do que para mulheres.

Ao que tudo indica essas equipes de homens não construíram conscientemente soluções que só serviriam para outros homens. Foi a falta de diversidade que os impediu de criar melhores soluções.

O mesmo raciocínio aplica-se à política. A inclusão de mais mulheres é uma questão não só de justiça, mas de interesse público. Na tecnologia e na política, a sub-representação feminina afeta negativamente o desenvolvimento e avanço da sociedade, que perde por não se valer de um aporte vital e significativo de contribuições.

Apesar das mulheres comporem a maioria do eleitorado brasileiro, e de uma legislação de cota de 30% para candidatas femininas, até 2018, as mulheres nunca haviam ultrapassado a marca de 10% na Câmara de Deputados. Em 2018, a eleição de 77 parlamentares elevou a 15% a participação feminina. Ainda assim, em um ranking mundial que mede a presença feminina nos parlamentos, o Brasil encontra-se na posição 145 dentre 193 países.

O ranking é liderado por Ruanda com 61% de mulheres legisladoras, em razão de um contexto histórico e de um sistema de reserva de assentos. Outras nações do topo são Nova Zelândia, México, Islândia, Suécia e Noruega.

O Brasil classifica-se atrás de países como Iraque, Afeganistão e Arábia Saudita. Entre os 33 países latino-americanos e caribenhos, o Brasil está na posição 31, à frente apenas de Belize e Haiti.

Para além dos efeitos de justiça e utilidade, a participação feminina fortalece o senso de comunidade que uma cidadania democrática requer. Vale citar a ex-Presidente do Chile, M. Bachelet: "quando uma mulher entra na política, muda a mulher; quando muitas mulheres entram na política, muda a política". Uma perspectiva promissora e fundamental para uma sociedade próspera, justa e democrática.