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Empresário preso pela PF integra cúpula do União Brasil

Preso na terça-feira (10) pela Polícia Federal sob suspeita de liderar um esquema de corrupção e desvios de recursos públicos, o empresário Marcos Moura é membro da diretoria nacional e da executiva do União Brasil, órgãos de cúpula do partido, e mantém relação de amizade com políticos da legenda.

Ele se filiou ao partido em fevereiro de 2023 e ingressou nas instâncias de comando em junho deste ano, conforme registros da Justiça Eleitoral. Isso significa que o empresário tem direito de voto para definir as estratégias políticas do partido, alocação de recursos, medidas judiciais e código de ética. O União Brasil representa a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados, com 59 parlamentares.

Na Bahia, sua base empresarial, Moura é conhecido como "rei do lixo". Um consórcio de que faz parte obteve contrato de R$ 427 milhões para cuidar da limpeza urbana de Salvador, cidade administrada pelo União Brasil.

Com essas credenciais, Marcos Moura costumava frequentar eventos do partido em Brasília e outras cidades.

O empresário compareceu, em outubro deste ano, à comemoração da vitória de Sandro Mabel na disputa pela Prefeitura de Goiânia. Em uma foto no evento, ele aparece posando com Mabel e outros caciques da legenda: o presidente do União Brasil, Antônio de Rueda, o líder da legenda na Câmara dos Deputados, Elmar Nascimento (BA), e o deputado federal Fernando Coelho Filho (PE).

Aliados também dizem que o empresário tem relação antiga com o ex-prefeito de Salvador e vice-presidente do partido, ACM Neto. Marcos Moura é proprietário de uma pequena aeronave em sociedade com a irmã de ACM Neto, a empresária Renata Magalhães Correia, e um outro político baiano, João Gualberto (ex-prefeito de Mata de São João).

Além disso, sua empresa é parte de um consórcio que presta serviços de limpeza urbana para a Prefeitura de Salvador, atualmente administrada por Bruno Reis (União Brasil), aliado de Neto.

A investigação da Polícia Federal detectou indícios de que Marcos Moura havia organizado um voo em aeronave particular com o objetivo de transportar R$ 1,5 milhão em dinheiro vivo de Salvador a Brasília, no último dia 3 de dezembro. O voo foi interceptado pela PF, e o dinheiro apreendido. Ainda não se sabe quem seria o destinatário.

Na operação, a PF também prendeu um primo de Elmar, o vereador eleito Francisco Nascimento -no momento da batida policial, ele arremessou uma bolsa com dinheiro vivo pela janela de sua residência. Ele é suspeito de atuar em conjunto com o grupo de Marcos Moura para realizar fraudes em contratos da prefeitura de Campo Formoso quando ocupou a função de secretário-executivo. O município é a principal base política de Elmar e tem como prefeito o irmão do deputado, Elmo Nascimento, do União Brasil.

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A defesa de Francisco Nascimento disse que não iria se manifestar porque ainda não teve acesso aos autos da investigação.

'Rei do lixo da Bahia'

Marcos Moura tem empresas na área de limpeza urbana, com contratos em diversas prefeituras da Bahia, incluindo Salvador. O empresário é apontado pela PF como um dos líderes de uma organização criminosa montada para fraudar licitações e desviar recursos públicos na Bahia e em outros estados.

Moura é conhecido como "rei do lixo" na Bahia. Sua empresa tem contrato com as prefeituras de Simões Filho, Entre Rios, Madre de Deus, Candeias, São Francisco do Conde, Campo Formoso, Jacobina, Cairú e Luís Eduardo Magalhães, que somam cerca de 600 mil habitantes.

Em 2018, quando ACM Neto era prefeito de Salvador, o consórcio Ecosal, do qual a empresa de Moura faz parte, fechou um contrato de R$ 427 milhões com a prefeitura para administrar a limpeza urbana da capital baiana por dois anos. O contrato foi renovado e está em vigor atualmente.

De acordo com a investigação, ele atuou em conjunto com os irmãos Alex e Fábio Parente, empresários dos setores de construção e limpeza, e com o ex-chefe do Dnocs (Departamento Nacional de Obras contra a Seca) na Bahia, Lucas Lobão. Os quatro aparecem juntos em diversas fotos publicadas em redes sociais, inclusive dentro da aeronave pertencente ao empresário.

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O papel de Moura na organização criminosa seria usar sua influência política em prefeituras para fraudar licitações e desviar dinheiro de contratos em favor do grupo.

"Marcos Moura exerce influência estratégica sobre figuras públicas e setores governamentais, utilizando essas conexões para facilitar contratos e consolidar o acesso a licitações direcionadas. Essa proximidade com agentes políticos de alto escalão permitiu que Moura criasse um ambiente de favorecimento contínuo para suas empresas e para aquelas pertencentes ao grupo criminoso investigado, onde seus interesses eram priorizados em processos de contratação pública", definiu a PF, ao pedir sua prisão.

A PF diz ter interceptado diálogos dele sobre pagamentos de propina. No resumo de um grampo captado no último mês de setembro, a investigação aponta que "Moura e Alex Parente discutem sobre o valor 'dois cinco zero' (R$ 250.000,00), sugerindo uma negociação financeira relevante. Esse valor seria preparado para ser entregue na segunda-feira seguinte, com estratégias para evitar qualquer vínculo direto entre Moura e a transação".

A defesa de Marcos Moura não retornou os contatos feitos pela reportagem.

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