Presidente paraguaio critica ação hacker do Brasil e cita feridas da guerra
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O presidente do Paraguai, Santiago Peña, afirmou hoje que a ação de espionagem do Brasil contra autoridades do seu país "abre velhas feridas" que remontam à Guerra do Paraguai e disse que isso não ajuda a construir uma integração regional no Mercosul.
"Foi uma notícia bastante desagradável. O Paraguai tem uma história bastante dura na região. Em um momento de nossa história enfrentamos uma guerra de extermínio como foi a guerra da Tríplice Aliança, com três irmãos, Uruguai, Argentina e Brasil, mas principalmente liderada pelo Brasil. O Brasil ficou no território paraguaio por quase uma década. São feridas que estamos buscando curar, e esse episódio, lamentavelmente, o que faz é abrir essas velhas feridas, quando o que queremos deixar para trás é essa história de ódio, de ressentimento", afirmou, em entrevista à Rádio Mitre, da Argentina.
É a primeira declaração pública do presidente paraguaio desde que o caso veio a público, revelado pelo UOL na última segunda-feira.
O UOL mostrou que a Abin sob o governo Lula executou uma ação hacker contra autoridades do Paraguai para capturar dados sobre uma negociação comercial da usina hidrelétrica de Itaipu. O planejamento da ação foi iniciado no fim do governo de Jair Bolsonaro. Após a publicação, o Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota confirmando a existência da operação de espionagem, mas atribuiu a ação ao governo Bolsonaro e disse que a gestão da Abin de Lula suspendeu a operação ao tomar conhecimento dela em março de 2023.
A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado na América Latina, travado entre 1864 a 1870. As estimativas variam, mas historiadores calculam que 300 mil paraguaios morreram no conflito e em decorrência das epidemias e da fome que se alastraram no período.
Paraguai cedeu às pressões do Brasil
Na entrevista, Peña afirmou que o Paraguai cedeu às pressões do Brasil nas negociações sobre o preço da tarifa de Itaipu realizadas em 2023 e reiterou que seu governo decidiu suspender essas tratativas depois que a notícia veio a público, até que o Brasil apresente explicações detalhadas sobre a ação hacker.
"Vemos com uma tremenda preocupação, porque não condiz com o tipo de relação que nós queremos propor. Queremos propor uma relação de amizade, de sócios, de amigos, que nos permita construir um Mercosul mais forte. Lamentavelmente estamos nesse impasse", disse.
Peña ainda declarou que jamais esperava uma ação de espionagem de um país "irmão" como o Brasil.
"Há ciberataques que provêm da China. Os Estados Unidos estão ajudando de maneira muito intensa, mas jamais imaginávamos que estaríamos sendo alvos de espionagem por parte de nossos irmãos, nossos vizinhos, os brasileiros", afirmou.
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