Deputados voaram em avião de empresário suspeito de fraudar licitações

Ler resumo da notícia
Deputados federais da Bahia voaram em um avião do empresário Alex Parente, investigado na Operação Overclean, da Polícia Federal, por suspeita de desvios de recursos de emendas parlamentares e fraude a licitações.
A PF está analisando os nomes listados em uma planilha de voos da aeronave, apreendida em dezembro na sede de uma das empresas de Parente.
Ele é investigado como um dos líderes de uma organização criminosa montada para fraudar licitações e desviar recursos públicos na Bahia e em outros estados juntamente com Marcos Moura, conhecido como Rei do Lixo.
O UOL apurou que ao menos três parlamentares baianos já usaram o avião: o líder do PSD na Câmara dos Deputados, Antônio Brito; o ex-líder do União Brasil, Elmar Nascimento, e o deputado Félix Mendonça Júnior (PDT). Todos negam irregularidades.
Antônio Brito disse que um assessor contratou a aeronave para um deslocamento dele de Vitória da Conquista (BA) a São Paulo porque o voo comercial que ele havia comprado foi cancelado por causa de neblina. Afirmou ainda que não conhece Alex Parente.
Elmar disse que fez uma permuta de horas de voo, emprestando seu helicóptero para o empresário fazer um voo e, em troca, Parente lhe forneceu a aeronave para um deslocamento de Campo Formoso (BA) a Salvador.
Já Félix Mendonça Júnior disse que viajou de carona por convite de um colega. Afirmou que conhece Alex Parente, mas que nunca recebeu pedidos em troca do voo.
Procurada, a defesa de Alex Parente não se manifestou sobre o uso do avião. Em nota na terceira fase da Overclean, realizada neste mês, o advogado do empresário, Sebástian Mello, afirmou que "todos os fatos serão oportunamente esclarecidos perante as autoridades competentes, assim que tiverem pleno acesso à decisão e demais elementos dos autos".
Coaf detectou transações suspeitas de autoridades com foro
A aeronave é um modelo Raytheon Hawker 400A que acomoda oito pessoas. Foi comprada por R$ 15 milhões por uma empresa ligada a Alex Parente.
A investigação passou a tramitar no STF em janeiro por causa da suspeita de envolvimento de deputados federais nos fatos sob investigação, já que eles possuem foro privilegiado. A PF apontou que Elmar Nascimento enviou emendas no valor de R$ 40 milhões à Prefeitura de Campo Formoso que posteriormente foram alvo de fraudes em licitações pelo grupo. Elmar tem negado irregularidades e dito que não tem relação com essas contratações.
A planilha com os voos do avião de Alex Parente foi apreendida em dezembro, antes de o caso ter sido enviado ao STF. No documento, já estavam listados nomes de deputados.
Agora a PF também apura transações financeiras detectadas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) envolvendo autoridades com foro privilegiado.
O Coaf detectou que o empresário Marcos Moura fez uma transação de R$ 450 mil com uma autoridade com foro privilegiado.
Além disso, um lobista ligado a Parente fez uma transferência de R$ 200 mil a outra autoridade com foro privilegiado. O ministro do STF Kassio Nunes Marques autorizou a PF a obter os nomes dos envolvidos nessas transações junto ao Coaf, como mostrou o site Metrópoles.
Dinheiro vivo no avião
Um piloto que administrava a aeronave, Alencastro da Cunha Lopes, disse à PF que era comum o transporte de dinheiro vivo.
"Tinha conhecimento do transporte de dinheiro em espécie na aeronave de prefixo PS-SSA, mas não sabe informar quantas vezes isso ocorreu", afirmou em depoimento prestado em fevereiro.
Ele também relatou que em uma ocasião Alex Parente reclamou do sumiço de R$ 30 mil. "Inicialmente, o depoente ficou preocupado, pois temeu que a suspeita recaísse sobre os pilotos, que são pessoas de boa índole e jamais cometeriam tal ato, ou seja, furtar eventuais quantias transportadas na aeronave", disse o piloto.
Segundo o depoimento, Parente acusou um motorista de ser o autor do furto, e o assunto não voltou a ser abordado.
A Polícia Federal chegou a fazer uma ação, em dezembro, para apreender uma mala de dinheiro transportada por Alex Parente de Salvador a Brasília. Na ocasião, o empresário usou uma aeronave emprestada por um terceiro.
Na ação, a PF apreendeu R$ 1,5 milhão em dinheiro vivo quando Alex Parente pousou em Brasília. Os investigadores não esperaram até que o dinheiro vivo fosse entregue ao seu destinatário na capital federal.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.