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Agente da Abin diz à PF que espionagem contra Paraguai seria levada a Lula

Um servidor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que coordenou as ações de espionagem contra o Paraguai afirmou em depoimento à Polícia Federal ter recebido a informação de que os documentos dessa ação seriam entregues ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo diretor da agência, Luiz Fernando Corrêa.

Esse é o mesmo servidor que forneceu à PF os detalhes da ação, em um depoimento prestado no ano passado. O UOL revelou em 31 de março que esse servidor explicou à PF que a Abin realizou ações para invadir dispositivos de informática de autoridades do governo do Paraguai com o objetivo de obter informações sobre a negociação da tarifa da hidrelétrica de Itaipu.

Ele foi chamado para prestar novos esclarecimentos em fevereiro deste ano. O depoimento sigiloso foi obtido com exclusividade pelo UOL.

O agente reiterou que a ação de espionagem foi iniciada durante a gestão da Abin sob o governo Bolsonaro mas continuou sendo executada em 2023, já no governo Lula.

Ele disse ter ouvido a informação diretamente de um outro oficial da Abin que foi responsável por apresentar os detalhes da operação de espionagem ao diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa.

"[Nome suprimido] contou para o declarante que Luiz Fernando, após receber os documentos, teria dito que pela primeira vez se sentia em um órgão de inteligência; que [nome suprimido] teria dito que Luiz Fernando iria levar para o presidente", disse o agente.

A Polícia Federal perguntou a ele por qual motivo a operação foi realizada novamente em 2023, se as ações realizadas em 2022 já haviam permitido o acesso a documentos do governo paraguaio.

O agente, então, respondeu que a ação foi retomada já sob o governo Lula porque também haveria mudanças no governo do Paraguai. O objetivo seria acessar informações dos integrantes do novo governo. O presidente Santiago Peña foi eleito para a presidência do país vizinho em abril de 2023 e assumiu o posto em agosto daquele ano.

"Por que foi realizada nova 'Operação Vórtex' em 2023, se as informações relevantes já haviam sido obtidas em 2022?", registrou a PF no interrogatório. "O objetivo era obter acesso dos novos ocupantes do governo. Que o objetivo era continuar a obter dados da negociação da parte paraguaia", respondeu o agente da Abin.

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Procurada, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência disse "negar veementemente a informação". "Ela não procede. O presidente Lula só tomou conhecimento sobre a citada ação da Abin em relação ao Paraguai em março deste ano (2025), quando o assunto veio a público pela Imprensa" afirmou por meio de nota ao UOL. A Abin não se manifestou.

Ação envolveu viagem de ministro de Lula

Como o UOL revelou hoje, documentos inéditos mostram que a agência executou uma das fases da operação de espionagem contra o Paraguai às vésperas de uma viagem do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, ao país vizinho, em março de 2023.

Um desses documentos indica que o então ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Julio César Arriola, foi uma das vítimas da ação de espionagem na ocasião.

A Abin obteve uma cópia antecipada da minuta do discurso que Arriola faria durante a visita de Mauro Vieira. O documento da Abin, que foi apreendido pela PF nos computadores e pendrives da agência, tem a data de criação no dia 8 de março de 2023 e, nos seus metadados, consta como autor um funcionário da diplomacia paraguaia. Essa informação indica que o documento foi produzido diretamente pela equipe do chanceler paraguaio.

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Outro material foi produzido pela Abin em junho de 2023. Trata-se de um esquema gráfico descrevendo as autoridades do Paraguai responsáveis pela discussão do assunto da tarifa da hidrelétrica de Itaipu e a descrição de documentos do governo paraguaio obtidos por meio da ação da Abin, incluindo um outro documento do chanceler paraguaio, desta vez um resumo para orientá-lo na véspera da visita do ministro brasileiro.

Questionado ontem sobre as ações de espionagem contra o Paraguai, o Ministério das Relações Exteriores reiterou a nota publicada em 31 de março, na qual atribuiu a operação ao governo Bolsonaro e disse que mandou suspendê-la assim que teve conhecimento.

Pressão interna contra o chefe da Abin

Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da Abin
Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da Abin Imagem: Pedro França/Agência Senado

Nos bastidores da Abin, o recente indiciamento do diretor-geral da agência pela Polícia Federal, no caso da chamada "Abin paralela", é visto como mais um capítulo de uma disputa de poder entre o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, e o chefe do órgão de inteligência.

O relacionamento entre as duas instituições, que sempre foi tumultuado, foi marcado no início do governo Lula pela tentativa de Andrei de emplacar um nome de sua confiança para comandar a Abin. O presidente optou pelo delegado aposentado da PF, que comandou a instituição no segundo mandato do petista.

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Corrêa tem enfrentado ainda pressão interna. Servidores da Abin defendem que o órgão seja comandado por um servidor de carreira.

Reportagem

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