'Abin paralela': Indiciados produziram dossiê contra governo Lula, diz PF
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A Polícia Federal identificou que um grupo de disseminadores de notícias falsas, classificados como integrantes do chamado "gabinete do ódio" de Jair Bolsonaro (PL), continuou produzindo dossiês e espalhando informações distorcidas ainda no ano de 2024, contra integrantes do atual governo do presidente Lula (PT).
Após coletar provas na investigação sobre desvios da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), a PF encontrou diálogos entre dois integrantes do gabinete do ódio que demonstram a produção de informações falsas contra integrantes do atual governo, incluindo o ex-ministro da Comunicação Social Paulo Pimenta.
Os envolvidos nessa ação eram o assessor parlamentar Daniel Lemos, que trabalhava no gabinete do deputado federal Pedro Jr (PL-TO), e o influenciador bolsonarista Richards Pozzer. Ambos foram indiciados no relatório final do inquérito da "Abin paralela".
Eles buscaram acesso a um grupo de WhatsApp chamado "Caçadores de Fake News", criado por pessoas ligadas ao presidente Lula. Pozzer levantou informações sobre os administradores do grupo e produziu um dossiê. Dentre os administradores estava Paulo Okamotto, fundador do Instituto Lula.
Depois disso, Pozzer produziu um dossiê apontando que alguns participantes do grupo tinham empresas que receberam recursos da cota parlamentar de um deputado petista e da campanha presidencial de Lula. A partir dessa informação, o influenciador bolsonarista produziu um documento dizendo que havia detectado o rastro do dinheiro para financiar ações contra a direita.
O material foi encaminhado para o assessor parlamentar Daniel Lemos, com a sugestão de convocar uma das pessoas citadas para prestar esclarecimentos na Câmara dos Deputados. Pozzer, então, conclui que seria uma prova da existência de um "gabinete de ódio" petista. Ele também compartilha uma imagem mostrando que o então ministro da Comunicação Social do governo Lula, Paulo Pimenta, havia ingresso no grupo de WhatsApp dos "Caçadores de Fake News".
A PF descreveu esses fatos no relatório final da Abin paralela: "Ao encaminhar para Daniel Ribeiro Lemos um "registro de tela" que mostra a inclusão de Paulo Pimenta no grupo pela administradora Clarissa Berry, Richards Pozzer destacou: 'mais uma prova do gabinete do ódio', 'Acho que temos mais uma prova cabal do gabinete do ódio', 'Tem que chamar essa Clarissa Berry Veiga para prestar esclarecimentos', 'Aí a casa vai caí pra muita gente'".
Em seguida, concluiu a PF: "O presente evento, portanto, colaciona a permanência e continuidade do 'modus operandi' dos responsáveis pela produção contínua de desinformação. A sistemática utilizada na construção dos dossiês é a mesma identificada durante a CPI da COVID e direcionada contra seus integrantes".
Pozzer também produziu um dossiê em 2024, por exemplo, sobre a atuação digital da Central Única dos Trabalhadores, entidade próxima ao PT.
No capítulo sobre os indiciamentos, a PF registrou que Pozzer "tinha a dupla função de produzir e disseminador de desinformação, operando em conexão direta com a estrutura de inteligência paralela da Abin e com assessores do Palácio do Planalto e Congresso
Nacional". Ele foi indiciado por organização criminosa, tentativa de golpe, tentativa de impedir o exercício dos Poderes e obstrução de Justiça. Daniel Lemos foi indiciado por organização criminosa, peculato e embaraço à investigação.
Outro lado
Nos depoimentos prestados à PF, tanto Daniel Lemos como Richards Pozzer decidiram ficar em silêncio.
Em manifestação anterior, a defesa de Pozzer afirmou que ele não tinha contato com autoridades públicas e somente realizava pesquisas em fontes abertas, sem que isso configurasse prática de crimes. A defesa dele não foi localizada para se manifestar sobre os fatos do relatório final.
Procurada, a defesa de Daniel Lemos afirmou que ainda não teve acesso ao relatório final da Polícia Federal.
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