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Alberto Bombig

REPORTAGEM

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Em nova fase na comunicação, Lula usa comunismo para ironizar Bolsonaro

Colunista do UOL

11/05/2022 13h29Atualizada em 12/05/2022 10h18

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Sob nova direção na comunicação, a pré-campanha eleitoral de Lula (PT) pretende se apropriar, no debate público, de temas caros a Jair Bolsonaro (PL) e ao bolsonarismo. O primeiro deles será o "comunismo", usado pelo presidente para atacar todos os seus adversários da centro-direita até a esquerda.

Em nova peça, produzida especialmente para o ambiente digital (para ser divulgada em redes sociais e de mensagens), a pré-campanha petista lança mão daquilo que os publicitários costumam chamar de "triangulação": desmoralizar o discurso do adversário sobre determinado tema e tomar para si essa bandeira.

A peça publicitária, à qual a coluna teve acesso, começa dizendo "cuidado, se o Lula voltar, aquele comunismo vai voltar". Na sequência, são elencadas realizações dos governos do ex-presidente petista (2003-2010): "a gasolina pode voltar a custar R$ 3,00, o gás pode voltar a custar R$ 35,00 e a conta de luz pode voltar ao normal e pode até voltar a ter comida todo dia para todo mundo". A narração do texto é ilustrada com imagens dos anos Lula.

Ao final, a peça intensifica o tom de ironia: "cuidado, gente, muito cuidado, porque se o Lula voltar com todo aquele comunismo, a gente pode até voltar a ser feliz". O texto também fala em respeito ao Judiciário e revalorização das cores da bandeira do Brasil no exterior, outro tem a caro ao bolsonarismo.

Relacionar o PT ao regime comunista é prática recorrente de Jair Bolsonaro e seus seguidores. Em março deste ano, por exemplo, o presidente disse que se orgulhava de "ver, em todo esse Brasil, obras sendo realizadas, vendo que, cada vez mais, nos afastamos do socialismo e do comunismo".

Após uma crise interna e sob muita insatisfação do partido PT com resultados na área, o prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva, e o deputado federal Rui Falcão (SP) dividirão o comando da comunicação da pré-campanha, que terá o publicitário Sidônio Palmeira como marqueteiro. Eles já começaram a trabalhar juntos e têm nova reunião marcada para esta quinta-feira, 12, quando discutirão os novos rumos e ações para fortalecer Lula nas redes sociais, terreno onde o petista vem comendo poeira e colecionando críticas na corrida contra Bolsonaro.

A pré-campanha de Bolsonaro também ensaiou recentemente o uso da triangulação para se apropriar de bandeiras lulistas. Nas redes, o presidente postou uma peça falando em "união", bandeira do petista. Com uma montagem que o caracterizava como negro, asiático e indiano, o presidente escreveu: "em nós carregamos todos os povos do mundo. Independente (sic) de cor, sexo, classe social, somos todos iguais, o que importa são os nossos valores e o nosso caráter".

Após a publicação deste texto, o PT procurou o colunista para dizer que a peça não foi feita pela nova equipe de comunicação da pré-campanha de Lula, que acabou de assumir o comando da área, mas por colaboradores. Segundo o partido, portanto, ela não pode ser creditada oficialmente ao PT e muito menos à nova equipe, apesar de estar circulando em grupos e redes.

Segundo apurou a coluna, porém, a peça foi apresentada a interlocutores por integrantes da direção partidária como um modelo a ser seguido daqui para frente.