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Alberto Bombig

REPORTAGEM

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Com Lula parado e errático, Bolsonaro está em viés de alta em SP

O ex-presidente Lula e o presidente Bolsonaro - Ricardo Stuckert e Alan Santos/Presidência da República
O ex-presidente Lula e o presidente Bolsonaro Imagem: Ricardo Stuckert e Alan Santos/Presidência da República

Colunista do UOL

07/07/2022 12h02Atualizada em 07/07/2022 12h59

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Os comandos das pré-campanhas de Lula (PT) e de Jair Bolsonaro (PL) têm hoje uma obsessão em comum: o Estado de São Paulo. É no maior colégio eleitoral do país, onde os petistas colecionam derrotas, que começam a ser registrados os abalos sísmicos, pequenos tremores, capazes de se transforarem em grande terremoto na eleição presidencial deste ano.

Conforme a expressão usada por um veterano de campanhas eleitorais, em São Paulo deverá ser travada a "Batalha de Stalingrado" destas eleições: 1) se Lula abrir uma grande vantagem de votos sobre Bolsonaro, levando-se em conta as dificuldades do presidente no Nordeste e em parte do Norte, será muito provável uma vitória do petista, com boa possibilidade de ela ocorrer ainda no primeiro turno; 2) se Bolsonaro conseguir ressuscitar e ampliar o sentimento antipetista no eleitor paulista, predominante em sua vitória em 2018, transformar Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) em potente cabo-eleitoral, e criar expectativas positivas no eleitor, poderá estreitar a diferença ou até mesmo reverter a vantagem de Lula.

Nesta quinta-feira (7), uma pesquisa Genial/Quaest aumentou a tensão na pré-campanha de Lula e deu ânimo aos bolsonaristas. Segundo o levantamento, se a eleição fosse hoje, Lula e Bolsonaro estariam tecnicamente empatados entre os eleitores de São Paulo.

A /Quaest fez 1.640 entrevistas presenciais entre 1ª e 4 de julho. Lula teria 37% dos votos e Bolsonaro, 32%, dentro da margem de erro que é de 2.4 pontos percentuais. Ciro Gomes ficaria com 9% da preferência do eleitorado e Simone Tebet, com 3%. André Janones, Vera Lúcia, Pablo Marçal, Luiz Felipe D'Ávila e Eymael aparecem com 1%. Luciano Bivar, Sofia Manzano e Leonardo Péricles não pontuaram.

Na pesquisa nacional, a Quaest mostrou que havia uma aproximação entre Lula e Bolsonaro no Sudeste. Parte desse viés de alta, está vindo justamente de São Paulo. Segundo a equipe da Quaest, uma das explicações é que o presidente está conseguindo criar uma expectativa positiva no eleitor por conta das recentes ações do governo federal, com a ajuda da base governista no Congresso: redução do ICMS dos combustíveis e avanço na tramitação da PEC com bondades eleitorais.

Na linguagem do marketing político, Bolsonaro está triangulando o eleitorado do petista, enquanto seu principal adversário parece jogar parado. Em uma imagem mais direta: o presidente se vestiu de Lula em busca do eleitorado mais necessitado da ajuda governamental neste momento de dificuldades econômicas.

Do outro lado da disputa, mesmo após a troca de comando na comunicação da pré-campanha de Lula, permanece a sensação de inação do ex-presidente na agenda positiva (capacidade de gerar fatos novos e favoráveis a ele) e, principalmente, na negativa contra Bolsonaro. Em linhas gerais, para aliados, até aqui o PT conduz uma pré-campanha errática e um tanto desmotivada.

Nos bastidores da coligação lulista e de sua rede de apoios nos estados, volta a surgir o descontentamento com os rumos da pré-campanha e com a enorme capacidade do ex-presidente e de alguns de seus aliados de inserir no debate público temas que só produzem agenda negativa contra o próprio pré-candidato da esquerda. Em conversa com a coluna, um importante governador aliado ao petista avaliou que não era o momento do PT ter insistido em temos com as mudanças na legislação trabalhista, a revogação do teto de gastos e de ter entrado em temas delicados eleitoralmente, como as questões do abordo e da legalização de drogas.

Como explica experimente profissional de marketing eleitoral, Bolsonaro está dando argumentos (com dados de realizações) para que a adesão emocional a seu nome encontre seu "reason why": o eleitor que quiser justificar para si mesmo o motivo de estar mais aberto a ouvir o presidente, sobretudo no Sudeste, terá informação para apoiá-lo.

A inação da pré-campanha negativa de Lula contra Bolsonaro facilita essa conversão: pela falta de lembrança pública, organizada e constante dos desmandos e erros de Bolsonaro, será menos vergonhoso, socialmente, defender e votar no presidente, explica esse profissional. Ao mesmo tempo, a forte pressão negativa contra Lula, ligando-o ao crime e à corrupção, como mostrou a Newsletter UOL nas eleições, facilitará a troca.

Divulgada na semana passada (portanto, antes de mais um avanço da PEC Kamikaze no Congresso), a mais recente pesquisa Datafolha mostra Lula com 43% das intenções de voto no estado, seguido por Bolsonaro, que marca 30%. Ainda segundo o instituto, em relação ao total do país, o petista tem menos eleitores em São Paulo, já que marcou 47% das intenções de voto na pesquisa nacional, e Jair Bolsonaro anotou 28%, ou seja, o presidente está muito próximo de seu percentual total.

Em uma leitura ligeira, a missão de Bolsonaro parece difícil, mas é preciso lembrar que Lula foi derrotado no primeiro turno da eleição presidencial em São Paulo em 2006, assim como foram Dilma Rousseff (PT), em 2010 e 2014, e Fernando Haddad (PT), em 2018. Definitivamente, o estado é um terreno hostil para os petistas.

Portanto, a vantagem de Lula é uma das novidades desta eleição, e os estrategistas do PT vão trabalhar para ampliá-la daqui para frente com a provável adesão de Márcio França (PSB) à chapa de Fernando Haddad ao governo paulista. Mantida até 2 de outubro a liderança do ex-presidente apontada pelo Datafolha (13 pontos de diferença), tirante abstenções, brancos e nulos, pode representar uns 3 milhões de votos de frente sobre Bolsonaro. Não é pouca coisa, pelo contrário.

Porém, outra novidade desta jornada é que Jair Bolsonaro, apesar da resiliência apontada pela pesquisa, viu escorrer pelas mãos o apoio maciço que recebeu dos paulistas em 2018, quando obteve 53% dos votos válidos no primeiro turno no estado, ante apenas 16% de Haddad. Em sentido inverso, a rejeição ao presidente em São Paulo aumentou muito: 56% dizem que não votariam nele de jeito nenhum.

Se diminuir essa rejeição, com seu pacote de bondades e com ajuda Tarcísio, e, na outra ponta, aumentar de Lula, Bolsonaro estará definitivamente fortalecido no jogo eleitoral.