Conteúdo publicado há 23 dias
Amanda Cotrim

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Reportagem

Brasileiro cria restaurante secreto para debater política em Buenos Aires

A Casa Moema, em Buenos Aires, leva à mesa comida brasileira e política, em uma proposta exclusiva, onde não se come apenas com a boca, mas, principalmente, com os ouvidos.

A proposta é alimentar corpos e mentes interessadas em atualidades, seja a crise na Venezuela ou a guerra no Oriente Médio.

O local recebe figuras conhecidas, como o político brasileiro Marcelo Freixo (PT-RJ), presidente da Embratur, e personalidades da política argentina, além de jornalistas e artistas.

Nesse caldeirão de possibilidades, mesmo figuras controversas como o presidente Javier Milei não ficariam de fora do menu político da Casa Moema.

"Gostamos quando podemos propor diálogos com convidados e com públicos diferentes. Receberíamos Milei assim como recebemos outras figuras que representam os opostos na política", revelou um dos sócios, o brasileiro Murilo Tartaglia, de 35 anos.

Sócios da Casa Moema, a argentina Valentina Caputo, 34, e o brasileiro Murilo Tartaglia, 35
Sócios da Casa Moema, a argentina Valentina Caputo, 34, e o brasileiro Murilo Tartaglia, 35 Imagem: Amanda Cotrim/UOL

Foi em Chacarita, bairro portenho de classe média —considerado um dos bairros mais descolados do mundo por revistas de viagens— que o brasileiro escolheu colocar em prática as suas duas paixões: a política e o contato interpessoal, regado a vinhos argentinos e comida brasileira. Transformou sua própria casa em um espaço de encontros, criando o restaurante com sua sócia, a poetisa e produtora argentina Valentina Caputo, 34.

Se, por um lado, o brasileiro é o responsável pela criação do menu gastronômico, colocando muitas vezes a mão na massa, por outro, Valentina colabora com as sugestões e com os contatos junto aos convidados, participando da criação do menu político em parceria com o brasileiro.

O nome casa é inspirado no bairro paulistano onde nasceu Tartaglia. Depois de viver em Londres e Rio de Janeiro, ele escolheu Buenos Aires como morada há 15 anos.

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Paralelamente à gastronomia, Tartaglia, que estudou cinema em Buenos Aires e se candidatou em 2020 a vereador pelo Rio de Janeiro, trabalha como ator, publicitário e analista político.

"O charme da casa é proporcionar um sentido de comunidade. Hoje, conseguimos colocar direita e esquerda na mesma mesa e tentamos encontrar convergências ", detalhou o brasileiro.

Menu brasileiro e vinho argentino

Estrogonofe da Casa Moema
Estrogonofe da Casa Moema Imagem: Amanda Cotrim/UOL

Do lado gastronômico, o menu é de três passos: entrada, prato principal e sobremesa. Sempre acompanhado de um vinho argentino. "A cozinha de autor da Casa Moema é uma fusão Brasil-Argentina", explicou Tartaglia. "A comida é brasileira mas tento adaptar ao paladar argentino."

No dia que a reportagem conheceu o lugar, as opções de prato principal foram a feijoada e a versão brasileira do estrogonofe, em versões leves, com quantidades precisas —evitando a sensação de estômago pesado, principalmente em se tratando de um prato rico em gordura, como a feijoada.

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Além do prato principal, a entrada e a sobremesa podem variar. "Assim como o tema a ser discutido, o menu sempre muda", avisa o brasileiro.

Do lado da política, o tema é sempre escolhido a partir do que está em pauta no momento e que os sócios entendam que precisam ser debatidos e melhor compreendidos. Os temas, contudo, não se limitam estritamente a política. "A ideia é que os assuntos sejam variados, mas que o jeito de abordá-los seja contornado pelo político, afinal, tudo é política", indica Tartaglia.

Desde sua inauguração, em 2022, a Casa Moema reuniu mais de duas mil pessoas. Foram quase cem encontros até hoje, com uma média de 25 pessoas por evento.

Ambiente

Jantar na Casa Moema, criada por brasileiro em Buenos Aires
Jantar na Casa Moema, criada por brasileiro em Buenos Aires Imagem: Amanda Cotrim/UOL

O bairro de Chacarita, onde está o restaurante, é vizinho da badalado região de Palermo. O local, no entanto, mantém resquícios de um bairro residencial, tranquilo, onde ainda é possível encontrar casas, como a Moema.

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O local é quase imperceptível, pois sua fachada é residencial, não de restaurante. Ao entrar pela porta estreita do casarão, o público é guiado até a varanda cheia de plantas, no último andar, onde uma taça de vinho é servida. Os convidados vão chegando aos poucos e se conhecendo, se ambientando no famoso "esquenta", antes do início do evento.

"Há muitos restaurantes em Buenos Aires, mas a capital portenha ainda não tinha esse tipo de restaurante, que leve boa comida e política para a mesa, esse ambiente de encontro", revelou o brasileiro.

A experiência do jantar é para no máximo 30 pessoas e não tem preço fixo. O público escolhe o valor que quer pagar por ela.

Depois da recepção inicial, o público desce as escadas e se senta ao redor da mesa à espera do jantar e do encontro.

A iluminação compõe o clima íntimo, com luz baixa e acolhedora. A comida vem coroar um ambiente seguro, onde não é perigoso dizer o que pensa, desde que o respeito seja premissa.

"A política virou protagonista dos encontros da Casa Moema. As pessoas vem mais pelo debate, pela conversa, pelo tema que vamos tratar do que propriamente pela comida. Claro que a gastronomia tem seu espaço, mas o encontro é o grande diferencial da nossa casa", apontou Tartaglia.

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A conversa não tem regra para acontecer. "Já tivemos conversas que ficaram mais calorosas e outras que tiveram mais uma pegada de aula, onde o público só ficou escutando, sem interagir muito. Depende muito e isso é o mais legal. Nunca sabemos o que vai acontecer", revelou o brasileiro.

A experiência do menu de três passos aliada a uma conversa política não tem calendário fixo. Pode acontecer em qualquer data. A surpresa faz parte da experiência que os sócios da Casa Moema querem proporcionar aos convidados. Para saber quando será o próximo jantar-encontro, é preciso ficar atento ao calendário surpresa da Casa por meio das redes sociais.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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