Amanda Cotrim

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Reportagem

R$ 50 por um Big Mac: Argentina tem segundo hambúrguer mais caro do mundo

Comer um Big Mac na Argentina se tornou luxo. O hambúrguer no país vizinho é o mais caro da América Latina e o segundo mais caro do mundo em dólares, segundo o Índice Big Mac, elaborado pela publicação especializada The Economist e atualizado em janeiro pela agência de notícias Reuters. Até o final de 2024, o Uruguai era o país que tinha o hambúrguer mais caro da América Latina.

Para comer um Big Mac na Argentina, o consumidor vai desembolsar US$ 7,37, valor que só é superado na Suíça, onde o sanduíche custa US$ 7,92. O hambúrguer teve um salto de preço na Argentina recentemente: em 2022, era vendido na Argentina por US$ 4,29.

De acordo com o Índice Big Mac, o hambúrguer na Argentina é 60% mais caro do que em países como Brasil e Chile, onde custa US$ 4,49 e US$ 4,47, respectivamente. Ainda segundo o índice, o hambúrguer em Nova York custa US$ 6,89 dólares, e, no Uruguai, US$ 6,78.

Para mapear o custo do hambúrguer no mundo, o índice utiliza o preço de venda do sanduíche ao público de acordo com a taxa de câmbio oficial da moeda estadunidenses em cada país. Na Argentina, o dólar oficial foi cotado recentemente em 1.031,50 pesos. Um ano atrás, estava em 850 pesos.

Utilizando como parâmetro o câmbio oficial nos países pesquisados, o índice não considerou que na Argentina há mais de uma cotação para o dólar, e que a mais comum, utilizada na compra e venda de produtos e serviços, é a taxa de câmbio "blue", ou seja, a cotação informal, que costuma ser ainda mais alta do que o dólar oficial. Na sexta-feira (17) a cotação "blue" fechou em 1.235 pesos para US$ 1.

A coluna percorreu alguns pontos na cidade de Buenos Aires e encontrou o preço de 10.500 pesos argentinos para o Big Mac nas lanchonetes do McDonald's, o que significa R$ 52 no câmbio "blue" da moeda brasileira. Isto é, na prática, o hambúrguer sai ainda mais caro do que o índice Big Mac constatou.

O argentino Javier Aníbal, 28, é fanático por hambúrguer e, quando viajou pela primeira vez para o Uruguai, em dezembro do ano passado, fez questão de trocar a carne uruguaia pelo Big Mac e se surpreendeu com o preço do sanduíche no país. "Achei o hambúrguer mais gostoso e surpreendentemente mais barato no Uruguai do que em Buenos Aires. Aproveitei os preços para provar outros sabores", disse. "A Argentina está cara."

Já os amigos Ezequiel e Luiz, que lanchavam em uma unidade da rede de lanchonetes no bairro de Palermo, na capital portenha, consideram o Big Mac barato em comparação a outras hamburguerias na cidade. "Eu acho mais barato do que em outros lugares. Não só o lanche, mas o café e o sorvete também", afirmou Ezequiel.

Taxa de câmbio

Uma das explicações para o encarecimento da Argentina no último ano é a política cambial adotada pelo presidente Javier Milei, que decidiu interferir na flutuação da taxa de troca de moedas. Com a intervenção do Banco Central argentino, o peso passou a se desvalorizar 2% mensalmente em relação ao dólar oficial. Em 2023, a taxa de desvalorização do peso argentino em relação ao dólar oficial foi de 7,4%.

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Especialistas explicam que a taxa fixa de desvalorização do peso frente ao dólar foi instituída para conter a inflação e evitar a flutuação livre do câmbio. Essa medida ajuda a explicar por que a moeda nacional se fortaleceu, ainda que artificialmente.

Consultorias financeiras argentinas estimam que, desde que o governo Milei interferiu na taxa de câmbio ante dólar, o peso argentino em termos reais ficou três vezes mais forte em relação ao ano de 2023, quando a Argentina ainda era considerada um destino turístico barato na região.

O país enfrenta uma realidade de baixos salários e aumento de preços de produtos e serviços, impulsionado pelo super decreto do presidente Milei que desregulou a economia no início de 2024 com o objetivo de equilibrar as contas públicas e conter a hiperinflação. Em 2024, o poder aquisitivo do argentino caiu, em média, 12% em relação a 2023, de acordo com um informe do Observatório da Dívida Social Argentina, da Universidade Católica Argentina, com base nos dados do Instituto de Estatísticas do país.

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