Trump aposta em Milei para 'frear' influência de Lula

Javier Milei desembarca em Washington DC, nos EUA, na manhã de hoje (18) entusiasmado para a posse de Donald Trump, de quem nunca negou ser fã. No domingo (19), está prevista uma reunião do argentino com a gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Kristalina Georgieva.
Milei chega para a posse do mandatário americano com a imagem fortalecida na Argentina, segundo as últimas pesquisas, e com o desejo de "colar" em Trump para frear a influência de líderes da esquerda e centro-esquerda na América Latina, como Lula.
"Milei não deve conseguir limitar a influência mundial de Lula, mas pode enfraquecer alguns projetos que o presidente brasileiro tenha para a região, porque governar implica fazer alianças; nesse caso, a Argentina não opera como um governo aliado do Brasil, ainda que precise muito de Lula no âmbito econômico, já que o Brasil é um dos principais parceiros comerciais da Argentina", analisou a cientista política argentina Anabella Busso, professora na Universidade Nacional de Rosário e pesquisadora do Conicet (Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas).
Outro fator que pode colaborar para enfraquecer a integração regional, tal como deseja Lula, é a falta de uma política e acordos regionais fortes, que funcionem de maneira efetiva. Essa lacuna, segundo especialistas, pode aumentar a influência de Trump na América Latina, em um contexto de desarticulação de alguns organismos, como a OEA (Organização dos Estados Americanos) e o enfraquecimento da CELAC (Comunidade de Estados Latinos Americanos e Caribenhos).
Milei é "respiro" de Trump no Cone Sul
De acordo com Busso, Milei pode ser um "respiro" para Trump na América do Sul, onde o norte-americano não tem interlocução com a maioria dos países, principalmente os que integram o Cone Sul (Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai) e que são governados por políticos de esquerda e centro-esquerda
A Argentina seria o único país com relevância geopolítica que está alinhada com a política de extrema-direita e a agenda de Trump. Mas apesar da aliança com Milei não ser central para Trump, trata-se de uma aproximação relevante ao domínio geopolítico dos EUA sobre a região, lembrando que a Argentina foi o único país na CELAC que rejeitou no final do ano passado um projeto para defender o Canal do Panamá
Anabella Busso, professora na Universidade Nacional de Rosário e pesquisadora do Conicet
Em dezembro, Trump anunciou que durante seu segundo mandato poderia exigir que o Canal do Panamá fosse incorporado aos Estados Unidos, contrariando acordos assinados entre ambos países desde 1977.
A retirada do apoio da Argentina foi considerada por muitos especialistas como um fracasso para o bloco, uma vez que, por determinação dos países do grupo, as resoluções só são deliberadas quando há unanimidade.
Além de frear a influência de líderes de esquerda na América Latina, Milei pode ser um aliado de Trump na tentativa de barrar o avanço da China na América do Sul.
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