Milei aposta em aproximação com Trump para emplacar novo empréstimo com FMI

O governo de Javier Milei confia na aproximação ideológica com Donald Trump para avançar em negociações formais em torno de um crédito de US$ 11 bilhões de dólares junto ao FMI (Fundo Monetário Internacional).
O presidente argentino conta também com sua política de austeridade, elogiada em diversos momentos pelo fundo e reforçada na reunião de Milei com a diretora Kristalina Georgieva em Washington, no domingo (19) no contexto das festividades pela posse de Trump. Georgieva anunciou que representantes do FMI visitarão Buenos Aires nos próximos dias.
O encontro rendeu um abraço "efusivo"entre os dois e foi classificado por Georgieva como "excelente". A diretora do FMI ressaltou que a Argentina está "em grande progresso" e destacou a queda na inflação. "A reunião se deu num contexto do grande progresso que a Argentina está tendo para baixar a inflação, estabilizar a economia e voltar a crescer", disse Georgieva logo após o encontro.
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— Manuel Adorni (@madorni) January 19, 2025
"Também discutimos o futuro da nossa cooperação. Vamos trabalhar em um novo programa. A equipe do FMI vai a Buenos Aires na semana que vem. Eu acredito que a alquimia disso seria uma Argentina mais dinâmica e mais próspera" afirmou a diretora do organismo internacional.
Com um possível novo empréstimo do FMI, o governo Milei pretende conseguir dólares para o país e iniciar outra promessa de campanha do presidente de ultradireita: o fim do "cepo", uma política de restrição ao acesso à moeda americana, utilizada para evitar a saída massiva das divisas do país.
No entanto, o caminho não será propriamente fácil para Milei, alertam especialistas. Justamente pela Argentina ter uma política de "cepo" é que os países de peso que compõem o FMI podem ter resistência em aprovar novos empréstimos, analisou o economista argentino Guido Zack.
"O Fundo Monetário é um defensor de fundos livres e na Argentina continua havendo a política de 'cepo' e uma desvalorização cambial controlada pelo Banco Central Argentino. Nesse sentido, o FMI pode apresentar resistência para aprovar novo empréstimo à Argentina", ressaltou o economista.
Não é a primeira vez que o governo argentino recorre ao FMI. Em 2018, o então presidente Mauricio Macri adquiriu a maior dívida da história do Fundo, no valor de US$ 50 bilhões.
Considerando o retrospecto, a Argentina pode encontrar entraves para conseguir um novo programa de financiamento frente ao fundo, independente da amizade política entre Milei e Trump, considerou Gisella Doval, cientista política e pesquisadora do Conicet (Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas).
"Trump prometeu mais protecionismo, aumentando os preços das importações e o custo do financiamento das economias periféricas, com o objetivo de fortalecer o dólar, complicando ainda mais o pagamento da dívida bilionária que a Argentina mantém com o FMI", analisou Doval.
O jogo está aberto. Mesmo Milei tendo um possível respaldo político de Trump, será difícil os EUA, mesmo tendo poder de veto no FMI, encontrarem apoio dos outros países de peso que compõem a direção do FMI, como Japão, China e Europa, apontou o cientista político Fran Cantamutto.
"A Argentina tem uma dívida muito significativa com o fundo. Além disso, não está claro como o país devolveria esse dinheiro ao FMI e nem as garantias que se aplicariam", analisou Cantamutto. "As cartas parecem que não jogam a favor da Argentina, mesmo havendo aproximação ideológica entre Trump e Milei", pontuou.
FMI prevê crescimento da economia Argentina
O Fundo Monetário Internacional segue otimista sobre o futuro da economia argentina. O organismo internacional manteve sua projeção de aumento do PIB (Produto Interno Bruto) do país em 5% para 2025 e subiu para 5% a previsão para 2026.
O Brasil, principal parceiro comercial da Argentina, deve crescer 2,2% tanto em 2025 como em 2026, de acordo com as projeções do órgão. O FMI também estimou que o crescimento mundial será de 3,3%, tanto em 2025 como em 2026, abaixo da média dos últimos anos, de 3,7%.
As projeções do FMI colocam a Argentina à frente de países como Alemanha, cuja projeção de crescimento este ano é de 0,3, Brasil (2,2), China (4,6), Estados Unidos (2,7) e Japão (1,1) e atrás da Índia (6,5).
Inflação cai, mas consumo despenca na Argentina
A inflação argentina fechou em 2,7% em dezembro e 117,8% no acumulado dos últimos 12 meses —inferior à inflação anual de 211% em 2023. A Argentina registrou em 2024 o primeiro superávit financeiro em 14 anos, registrado em 1,8% do PIB.
O país, no entanto, registrou uma queda de 18% no consumo, de acordo com a consultora internacional Sentia —a maior redução da história no período de 12 meses consecutivos. Além disso, a Argentina tem metade da sua população abaixo da linha da pobreza. De acordo com dados oficiais do Ministério do Capital Humano, 49,9% dos habitantes do país eram pobres no terceiro trimestre de 2024,
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