Milei recua em reforma eleitoral e aposta na suspensão das primárias

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Temendo uma derrota polícia no Congresso, o governo de Javier Milei recuou em seu projeto de reforma eleitoral. O texto inicial, antes 60 artigos, passou a contar com apenas cinco.
Uma das principais alterações foi em relação às eleições primárias, ou Paso (Primária, Aberta, Simultâneas e Obrigatórias). O governo queria o fim da Paso, mas agora tenta apenas uma suspensão. As próximas acontecem em agosto. Para Milei, as eleições primárias oneram o Estado e viraram uma obrigação desnecessária para os argentinos, que precisam votar mais de uma vez no mesmo ano.
Mudar o sistema eleitoral da Argentina é um dos desejos do presidente Milei desde que assumiu, há um ano. Ele vem tentando costurar alianças para conseguir emplacar sua reforma política, sempre com o argumento de reduzir os gastos do Estado.
A reforma será votada na Câmara na quinta-feira (6). Para conseguir a aprovação, Milei depende do voto de 129 deputados —uma maioria que seu partido, o Liberdade Avança, não possui.
As eleições legislativas argentinas ocorrem em outubro deste ano. Metade da bancada na Câmara de Deputados (127) e um terço do Senado (24) serão renovados.
Por que Milei não quer a Paso?
O governo Milei alega que as primárias só geram gastos. "São eleições que oneram o Estado e que se tornam uma obrigação desnecessária para os argentinos, que precisam votar mais de uma vez no mesmo ano", afirmou a Casa Rosada.
Mas os dados oficiais indicam que o eleitor tem participado ativamente das Paso. Em 2023, na eleição para presidente, 69% dos argentinos participaram das primárias, enquanto 76% participaram das eleições gerais.
Para analistas políticos, no entanto, o argumento da redução de gastos por parte do governo esconde suas verdadeiras intenções.
"Eliminar as Paso facilita a vida do partido de Milei, o Liberdade Avança, porque é provável que em um partido onde não haja acordo sobre como integrar a lista de deputados e senadores, talvez isso possa fraturar o partido do presidente —ou seja, que haja uma fragmentação de políticos libertários. O que Milei quer é impedir essa fragmentação e conseguir uma coesão entre os libertários", explicou Ignacio Labaqui, Analista Político e Professor na UCA (Universidade Católica da Argentina).
De acordo com analistas políticos, sem as Paso, os líderes partidários de cada estado terão mais poder para elaborar suas próprias listas. A possibilidade interessa algumas forças políticas na Argentina, não apenas ao partido de Milei. A razão é que as eleições primárias determinam um piso de 1,5% dos votos válidos para que as forças políticas possam disputar as eleições gerais. Partidos que não superarem o número, não poderao competir em outubro.
Outro ponto de interesse de Javier Milei em suspender as Paso é que as eleições primárias na Argentina são uma espécie de censo eleitoral, diz Labaqui. A disputa abarca todo o universo de votantes, gerando impactos políticos e econômicos. "As primárias em agosto por exemplo podem mostrar que o peronismo tem vantagem na província de Buenos Aires e isso pode ter impactos sobre o mercado. O governo quer também evitar isso", disse Labaqui.
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