Vítima de calúnias, Francisco virou alvo de disputa política, diz arcebispo
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Dezenas de fiéis com fotos do papa Francisco, cartazes e camisetas, ocuparam a praça Constituição, em Buenos Aires, no fim da tarde desta segunda-feira (24) em oração pela saúde do pontífice argentino.
O local é emblemático. Foi nele que Francisco, ainda como Jorge Bergoglio, pediu inúmeras vezes por justiça social, como contou o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Ignácio Garcia Cuerva, que conduziu uma missa pela recuperação do primeiro não europeu e primeiro latino-americano a comandar a Igreja Católica.
A praça Constituição está situada no entorno de bairros humildes da capital portenha, regiões pelas quais Francisco teceu sua experiência como religioso da ordem jesuíta, e construiu sua trajetória como arcebispo de Buenos Aires por 15 anos, antes de ser papa.
"Nessa praça, Bergoglio rogava contra a pobreza e a injustiça que muitos hoje em dia fingem não escutar", afirmou Cuerva.
O arcebispo que fez questão de lembrar que, por causa da polarização política que vive a Argentina, "os argentinos não deixaram que Bergoglio seja Francisco", disse. "O colocamos na disputa e polarização política", destacou, sob aplausos dos fiéis presentes.
O discurso do arcebispo também foi em resposta aos inúmeros insultos que Francisco vem sendo vítima nas redes sociais, principalmente pela extrema direita do país. Ele é acusado de ser peronista, o que ele mesmo nunca confirmou.
"O papa foi vítima de calúnias durante todos esses anos, mas ele nos ensinou que é preciso dialogar", afirmou o arcebispo durante a missa por Francisco. "Somos irmãos. Temos que construir uma pátria de irmãos", ressaltou.

A mensagem do arcebispo ressoou junto aos fiéis que acompanharam a missa. Muitos vieram de longe especialmente para pedir pela saúde do pontífice, como foi o caso de Sônia VillaSanti, 42.
"Soube que haveria uma missa aqui minutos antes de sair do trabalho. Eu trabalho em uma penitenciária e moro no município de Ezeiza, um pouco longe daqui. Mas fiz questão de me juntar a essa corrente linda de amor pelo nosso papa", afirmou.

"O papa é sinônimo de amor", disse uma religiosa que estava na praça, em resposta aos insultos que o pontífice tem recebido nas redes sociais.
"Eles não sabem o que fazem. Ignoram quem é o santo padre, o que ele fez e faz pelo mundo. Só podemos rezar por essas pessoas", disse Sonia a reportagem
O papa dos pobres

Uma das regiões portenhas que fazem parte da história de Francisco quando o mesmo ainda era Jorge Bergoglio é a Villa 21-24, onde mora a paraguaia Laura Ibáñez, 33. O lugar é uma das regiões mais pobres da capital portenha.
Laura diz com orgulho que trabalha na paróquia do bairro e que ajuda a continuar o trabalho realizado pelo papa. "É uma região muito humilde onde enfrentamos muitos desafios. Muita droga. Fazemos de tudo: ajudamos com comida, roupa, oração. Oferecemos missas de segunda a segunda", conta. Ela diz que se orgulha de ter um papa latino-americano: "Como paraguaia que vive na Argentina, me sinto orgulhosa por termos um papa latino-americano. É preciso destacar isso."
Em um dos pontos altos da missa, o arcebispo afirmou que Francisco luta por uma igreja que não se feche para o mundo. "É preferível que a igreja se acidente por estar na rua do que viva doente por estar fechada", ressaltou o religioso. "Querido Francisco, estamos com você. Não desanime", finalizou o arcebispo, sob aplausos
Na Argentina, os últimos dados públicos são de 2019 e apontam que cerca de 60% dos argentinos são católicos.
Francisco é oxigênio
Mais cedo, em uma entrevista a rádio argentina Rivadavia, Garcia Cueva ressaltou que os últimos dias de vigília por Francisco também foram uma oportunidade para "recuperar a imagem do papa como pai de todos".
Ele destacou o papel de Francisco em conflitos contemporâneos, como a guerra entre Ucrânia e Rússia, uma das que mais recebeu atenção do pontífice. "Francisco foi oxigênio em um mundo asfixiado por guerras. Francisco sempre foi um homem que nos convenceu à fraternidade universal", afirmou.