Amanda Cotrim

Amanda Cotrim

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Milei ameaça saída do Mercosul e diz que bloco só enriqueceu brasileiros

O presidente Javier Milei voltou a defender a saída da Argentina do Mercosul e afirmou que, desde a sua criação, o bloco serviu apenas para enriquecer empresários brasileiros.

Em discurso na noite de ontem, na abertura das sessões do Congresso Nacional Argentino, o mandatário disse que o país deixará o Mercosul se isso for necessário para conseguir um acordo comercial com os Estados Unidos.

O primeiro passo nesta trilha é a oportunidade histórica que temos de entrar em um acordo comercial com os Estados Unidos. Para aproveitar esta oportunidade histórica que nos é apresentada novamente, é necessário estar disposto a flexibilizar, ou mesmo, se for o caso, sair do Mercosul.

A única coisa que [o Mercosul] conseguiu, desde a sua criação, é enriquecer os grandes industriais brasileiros ao custo de empobrecer os argentinos.
Javier Milei, na abertura do Congresso Nacional Argentino

Ainda sobre os EUA, Milei disse que Elon Musk se inspira em ações do governo argentino para implementar medidas no Doge, departamento focado no corte de gastos na gestão de Donald Trump.

Segundo o presidente, a Argentina teria sido motivo de "chacota mundial" em governos anteriores por se aliar a países como Cuba e Venezuela, mas atualmente está na "vanguarda do mundo".

Congresso esvaziado

Milei discursou por mais de uma hora para um Congresso esvaziado, uma resposta da oposição ao escândalo da criptomoeda $LIBRA e ao novo quadro da Suprema Corte que foi instituído sob decreto do presidente argentino.

Continua após a publicidade

A abertura das sessões legislativas deveria contar com a presença de 329 legisladores, sendo 257 deputados e 72 senadores, porém mais da metade da oposição esteve ausente. Dos 24 governadores, apenas sete compareceram, segundo levantamento do jornal La Nación.

Deputado pelo A Liberdade Avança, partido de Milei, Jose Luis Espert defendeu a atual gestão e afirmou que "os ausentes hoje são os que converteram a Argentina em uma miséria", referindo-se aos governos peronistas.

Mesmo com o recinto mais vazio, o presidente não poupou ataques ao que chamou de "casta política" e fez novas promessas. Afirmou que a "motosserra é uma política de Estado", defendeu mais privatizações de empresas públicas e pediu apoio para avançar com pautas como reforma trabalhista e redução da maioridade penal.

Saia-justa com a vice

Antes do início do discurso, Milei fez cara de poucos amigos à sua vice, Victoria Villarruel. Por ser vice-presidente, ela também ocupa o cargo de presidente do Senado argentino.

Os dois não se cumprimentaram e mantiveram um clima visivelmente desconfortável. É a primeira vez em três meses que ambos se encontram em um evento público.

Continua após a publicidade

O momento de maior hostilidade ocorreu quando Milei aparentemente encaminhava seu discurso para o fim e teria sido interrompido por Villarruel. Imediatamente, o presidente argentino "freou" a vice e pediu que ela o deixasse terminar de falar. "Não se apresse", disse.

Villarruel pediu desculpas. Mas o clima, que já era de tensão nos bastidores, ganhou contornos públicos.

Política migratória mais rígida

O presidente voltou a defender uma política migratória mais rígida e afirmou que aumentará as condições para deportações de estrangeiros que cometerem algum delito.

Milei pediu que os imigrantes sem residência permanente paguem pelas universidades públicas do país. O direito é previsto na lei de imigração da Argentina, que garante educação e saúde pública gratuitas a qualquer pessoa em território nacional.

Ataques contra a imprensa

Milei voltou a atacar a imprensa. Após restringir a cobertura da abertura das sessões no Congresso para fotógrafos e jornalistas credenciados, gerando inúmeras críticas, ele afirmou que a "pauta oficial" foi eliminada e que seu governo não precisa do jornalismo para mostrar suas conquistas.

Continua após a publicidade

"Não precisamos subornar a mídia. Temos conquistas, não precisamos de jornalistas mentirosos", disse. Segundo ele, a pauta oficial era "um instrumento que a casta usava para espalhar suas mentiras na mídia".

Logo que assumiu, Milei fechou a Telam, a maior agência estatal de notícias da América Latina, encerrando pelo menos 700 postos de trabalho.

Defesa da política econômica

Milei também aproveitou a oportunidade no Congresso para defender que, em um ano, cumpriu 75% das promessas de campanha. Ele destacou a redução da inflação e ironizou a oposição.

"Desde abril, a economia não para de crescer (...), mesmo que doa à 'União pela Plata' (plata significa dinheiro, em espanhol), como eles se chamam agora", disse. O nome oficial do partido peronista é União pela Pátria.

O presidente classificou sua política econômica como a mais exitosa da história da Argentina. Segundo ele, a redução dos gastos caiu sobre a "casta" e não sobre os mais necessitados —contrariando a realidade em que vive o país, com altos índices de pobreza e indigência, redução de subsídios e demissões em massa no sistema público.

Continua após a publicidade

No discurso, sustentou que a pobreza baixou durante o primeiro ano de gestão, caindo de 56% para 33%. Os dados foram creditados a um estudo da Universidade Torcuato di Tella, o qual, de acordo com o presidente, seria metodologicamente semelhante ao INDEC, instituto de estatísticas do país. "O número se traduz em 10 milhões de pessoas que saíram da linha da pobreza", ressaltou.

Em tom eleitoral, afirmou que o Congresso precisa se envolver no projeto que o país necessita. "Se aceitar minha oferta, verei que estão dispostos a se envolver no que o país precisa. Caso contrário, terão demonstrado que o único caminho para mudar o país é mudando este Congresso", disse, em relação às eleições legislativas que a Argentina terá neste ano.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.