Gás, bala de borracha e tanques em protesto de aposentados na Argentina
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Ao menos 25 pessoas foram detidas em um protesto organizado por aposentados e membros de torcidas organizadas de clubes de futebol hoje nas imediações do Congresso Nacional argentino, em Buenos Aires. A informação é das forças policiais federais.
A imprensa local, no entanto, fala em mais de cem detidos, incluindo prisões realizadas pela polícia da cidade de Buenos Aires.
Os manifestantes reivindicavam aumento da aposentaria mínima (cerca de 340 mil pesos, aproximadamente R$ 1.500) e o fim da política de ajuste fiscal do governo Milei.
Um fotógrafo identificado como Pablo Grillo ficou gravemente ferido após ser atingido por um cartucho de gás lacrimogênio na cabeça. Vídeos divulgados nas redes sociais mostram agressões da polícia contra idosos que participaram do protesto. Vinte e seis policiais foram feridos, um deles por arma de fogo, segundo o Ministério de Seguranca da Argentina.
Ahora policía contra una jubilada pic.twitter.com/Z3VBYV8wcZ
-- Lautaro Maislin (@LautaroMaislin) March 12, 2025
Para desmobilizar os manifestantes, a polícia avançou na avenida principal do congresso argentino em tanques, soltando bombas e dando tiros com balas de borracha. Houve confusão, gritaria e muita correria. Alguns aposentados com dificuldade de locomoção receberam ajuda.
Os manifestantes fizeram barricadas para conter os agentes. Um carro da polícia foi incendiado. Um manifestante ferido por uma bala de borracha foi encaminhado ao hospital, informou o governo argentino.

A mobilização também contou com organizações sindicais do país, como a CGT (Confederação Geral do Trabalho). Em resposta, o governo Milei montou uma mega operação de segurança e ameaçou impedir que os torcedores de futebol presentes no protesto entrem nos campos de futebol. Pelo menos duas quadras da avenida Callao, onde está localizado o palácio legislativo, ficaram fechadas pela polícia.
No local do protesto, a reportagem registrou pedaços de concreto e pedras. Os manifestantes tiravam os materiais com os pés, e diziam que era "para ninguém se machucar".
Os aposentados protestaram com cartazes e gritos de guerra, que diziam que Milei está matando "los jubilados" (os aposentados, em espanhol). Muitos idosos passaram mal com gás de pimenta e dezenas deles enfrentaram a polícia, que fazia barreira corporal para que os manifestantes não avançassem em direção ao congresso.
Gritando "vocês não têm vergonha de reprimir nós que somos aposentados?", um homem de 88 anos, que recebe a aposentadoria mínima, caminhava de andador. "É uma vergonha o que esse governo está fazendo com a gente. Não podia não vir ao protesto", afirmou, sem se identificar.
Entre os gritos de guerra, muitos insultos à ministra de segurança de Milei, Patrícia Bullrich, que instituiu o protocolo antiprotesto de rua, permitindo que a polícia intervenha caso os manifestantes obstruam a vias públicas. Máscaras para proteção contra o gás de pimenta e lacrimogênio foram distribuídas por voluntários.
"O que se viu hoje é de uma gravidade inusitada", afirmou Bullrich. "Essa gente [as torcidas de futebol] veio preparada para matar".
À noite, a Casa Rosada foi apedrejada.
Atentaron contra la Casa Rosada utilizando las piedras que recordaban a los fallecidos por la pandemia. Los violentos no tienen el más mínimo respeto por nada. Fin. pic.twitter.com/BgCxGDgoDr
-- Manuel Adorni (@madorni) March 12, 2025
Protesto recorrente
Todas as quartas-feiras, os aposentados protestam em frente ao Palácio Legislativo, o que ficou conhecido como "protesto dos aposentados". Na semana passada, houve conflito com a polícia, pessoas detidas e feridos.
Dessa vez, o protesto teve apoio das torcidas dos clubes Boca Juniors, River Plate, Argentinos Juniors, Gimnasia de La Plata, Atlanta, Ferro, Lanús, Almirante Brown, All Boys, Independiente, Racing, Tristán Suárez, Estudiantes de Buenos Aires, Rosario Central, Newell's, Los Andes, Nueva Chicago, Tigre, entre outras.
Alguns torcedores advertiram nas redes sociais que apoiar os aposentados era fundamental. "Chega de repressão aos jubilados", disseram alguns torcedores.