Vice argentina critica violência em manifestação: 'Exercício da democracia'
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A vice-presidente da Argentina, Victoria Villarruel, disse hoje que a manifestação dos aposentados faz parte da democracia, e que a violência não é uma ferramenta que deve ser utilizada. Villarruel também se solidarizou com os feridos, em um discurso que segue o caminho oposto ao do presidente argentino, Javier Milei, e da ministra de Segurança, Patricia Bullrich, que afirmaram que o protesto de ontem foi uma tentativa de golpe de Estado.
Como advogada, sempre acreditei que em qualquer evento tão difícil como o que aconteceu ontem, às portas do Congresso Nacional e nas áreas vizinhas, a justiça deve prevalecer. Eu me solidarizo com todos os feridos, sejam aqueles que foram protestar ou aqueles que fazem parte das forças federais, que colocaram seus corpos em situações extremamente violentas
Vice-presidente da Argentina, Victoria Villarruel, em declaração durante a Expoagro, em San Nicolás de los Arroyos, província de Buenos Aires
O protesto violento em Buenos Aires resultou na prisão de 124 pessoas e deixou 53 feridos, sendo um em estado grave. Levantamento é do jornal argentino La Nación. A manifestação de aposentados desta quarta-feira cresceu com a adesão de torcidas organizadas de cerca de 30 times de futebol.

A fala de Villarruel expõe a crise que existe entre ela e o presidente argentino. Os dois parecem manter a convivência por questões institucionais. A vice de Milei também é a presidente do Senado Argentino. Os dois evitam aparecer em público juntos e protagonizaram diversas situações em que tiveram posições políticas distintas sobre acontecimentos polêmicos, como a repressão aos aposentados na tarde de ontem.
O ato acontece tradicionalmente às quartas-feiras, mas nos últimos meses, a polícia passou a reprimir manifestantes com gás lacrimogêneo e violência física. Após manifestantes e policiais entrarem em confronto no meio da tarde, a polícia utilizou balas de borracha, gás lacrimogêneo e canhões de água contra os manifestantes, que atiraram pedras das calçadas, fogos de artifício e bombas de efeito moral.
Ministra diz que militantes kirchneristas causaram violência em protesto

A Ministra de Segurança, Patricia Bullrich, acusou os chamados "barra bravas" [torcidas organizadas de futebol, conhecidas por usarem da violência] e políticos do Partido Justicialista (peronista), de tentarem desestabilizar o governo Milei por meio da violência registrada no protesto dos aposentados.
Bullrich afirmou que os envolvidos nos confrontos foram "liderados por militantes kirchneristas". "Foi uma marcha organizada por barras, grupos de esquerda violentos, setores que buscam desestabilização. Foi uma situação de extrema gravidade, com pessoas com armas de fogo", disse.
Já o Ministro de Justiça, Mariano Cúneo Libarona, disse que as torcidas organizadas são, na verdade, criminosos organizados que destruíram o centro da cidade e agrediram a polícia. O ministro criticou a juíza da primeira instância, dizendo que "no lugar de investigar quem enviou os barras a semear o caos, decidiu liberá-los em menos de oito horas". Ele garantiu que a magistrada será analisada perante o Conselho Judicial da Cidade Autônoma de Buenos Aires por possível descumprimento de suas funções.
Durante a madrugada, a justiça de Buenos Aires liberou 114 dos 124 manifestantes presos. A juíza Karina Andrade afirmou que as prisões "afetam direitos constitucionais fundamentais, como o direito ao protesto, à manifestação em democracia e à liberdade de expressão", de acordo com um documento a que o Clarín teve acesso.
Fotojornalistas pedem renúncia de ministra após trabalhador se ferir gravemente
A Associação dos Fotojornalistas da Argentina (Angra) pediu a renúncia da ministra de Segurança, Patricia Bullrich. Em coletiva de imprensa na tarde de hoje, o grupo também repudiou a violência policial que deixou dezenas de feridos, entre os quais jornalistas que cobriram o protesto.
Pablo Grillo, fotógrafo de 35 anos, trabalhava na cobertura do fato quando foi atingido na cabeça por um cartucho de gás lacrimogêneo. Grillo foi operado com urgência na noite de quarta-feira. Ele está internado na UTI e seu estado de saúde é grave.
O chefe de Gabinete da Argentina, Guillermo Francos, afirmou que o caso do fotógrafo foi "um acidente não previsto". "São as consequências lamentáveis de um episódio violento como o que esse grupo gerou ontem nos arredores do Congresso e depois levou até a Praça de Maio."