Francisco ligou para mãe de Marielle após assassinato; relembre como foi

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Sete dias depois do assassinato da vereadora Marielle Franco, em 14 de março de 2018, o papa Francisco ligou para a família em gesto de apoio e solidariedade. Entre as anedotas que hoje são lembradas com carinho por pessoas próximas, a família chegou a desconfiar que a ligação se tratava, na verdade, de um trote, tamanha a surpresa por receber um telefonema da maior voz da Igreja Católica.
A mãe de Marielle, Marinete da Silva, voltava da missa de sétimo dia da filha quando foi surpreendida pela ligação telefônica de Francisco. Ao UOL, ela disse que ficou impactada com o gesto de solidariedade e contou o que o papa lhe disse:
"Ele me disse para ter fé, que a morte não era o fim e que a Marielle estaria sempre ao meu lado. Me afirmou que eu podia me orgulhar muito de ter vivido com a minha filha", relembrou (...) Foi uma grande alegria para mim. Me senti muito acolhida. Um líder mundial ter a preocupação de confortar uma mãe foi um gesto nobre", destacou Marinete, que é católica.
O telefonema de Francisco chegou após uma carta que a filha de Marielle, Luyara Santos, enviou dias antes ao pontífice. No texto, a jovem escreveu que aprendeu com sua mãe a ter fé e a ser católica. "Esse momento é de muita dor. Uma espada corta nossas almas. Te peço que ore por nós, pela nossa família, pelas mulheres, pelo povo negro, pelas vidas nas favelas do Rio de Janeiro (...) São muitos discursos de ódio e precisamos de amor", finalizou a mensagem de Luyara ao papa.
A intermediação entre o Francisco e a família de Marielle foi possível graças ao apoio de ativistas de direitos humanos brasileiros e argentinos, que fizeram chegar ao pontífice informações sobre a execução da vereadora e o desamparo da família diante daquela tragédia.
"Foi um papa defensor dos pobres, crítico do capitalismo e da cultura do 'descarte'; o primeiro papa latino-americano e, antes de tudo, um homem generoso e sensível. Nunca esquecerei seu gesto de atender nosso pedido para telefonar e confortar os familiares da Marielle dias após o seu assassinato", disse em sua rede social a brasileira Andressa Caldas, diretora do Instituto de Politicas Publicas de Diretos Humanos do Mercosul, que fez parte do grupo que colaborou para que o pedido de apoio chegasse ao conhecimento de Francisco.
Cinco meses depois do telefonema do pontífice, Francisco recebeu Marinete da Silva, mãe de Marielle, em Roma. O momento foi eternizado em uma fotografia.
No encontro de 55 minutos com o papa, Marinete lhe expôs a violação aos direitos humanos no Brasil, contou sobre o assassinato de sua filha e entregou a Francisco uma camiseta com a imagem da vereadora. Na ocasião, o papa disse que estava acompanhando o caso de perto e afirmou se preocupar com os assassinatos de lideranças de direitos humanos. A conversa, contou Marinete, foi em "portunhol", um sinal de abertura do papa.
"O encontro foi de uma sensibilidade que não tem como ser medida. Depois de tudo que eu vivi com o que aconteceu com a minha filha, esse pedido de Francisco para escutar a nossa história, com todo amor, foi uma troca inesquecível. Ele destacou o papel da minha filha, como mulher negra, catequista, parlamentar. Foi um acalento para mim", contou a mãe de Marielle à reportagem.

O papa dos direitos humanos
A defesa dos direitos humanos sempre foi uma bandeira do papa, antes mesmo de tornar-se Francisco. Quando ainda era Jorge Bergoglio, seus discursos- muitos inflamados- denunciaram as desigualdades e as violências, mas, principalmente, o que são aqueles que as produzem.
O papa também se posicionou sem medo sobre temas cruciais e concretos, como as guerras, a liberdade religiosa e afetiva, a exclusão social, a pobreza e, principalmente, a dignidade humana.
Em sua última aparição pública, Francisco condenou a crise humanitária no Iêmen, a guerra na Ucrânia, o acordo de paz entre Armênia e o Azerbaijão e as tensões politicas nos Balcãs Ocidentais e a guerra no território palestino. "Meu pensamento se dirige à população, em especial a população cristã em Gaza, onde o terrível conflito segue levando a morte e destruição, e provocando a dramática e indigna crise humanitária. Apelo pelo cessar-fogo, que os reféns sejam libertados e que se preste ajuda as pessoas que têm fome e aspiram um futuro e paz", disse o papa.
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