Braço direito de Francisco diminuiu chance de ser papa após bênçãos a LGBTs

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Um dos quatro cardeais argentinos aptos a votarem no próximo conclave, o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, Victor Manuel "Tucho" Fernandez, de 62 anos, era o braço direito de Francisco. Sua missão era ajudar o pontífice e os bispos no anúncio do evangelho em todo o mundo e ao ser o responsável pela assinatura da declaração da Fiducia supplicans, em 2023, que permitiu a bênção em homossexuais, praticamente enterrou qualquer chance de ser eleito o sucessor de Francisco, disse uma fonte que conhece o Vaticano, sob reservas.
"Tucho não seria eleito papa, de jeito nenhum. Ele foi tido como o responsável pelo documento que autorizou a benção aos homossexuais. Muito provavelmente, depois do conclave, ele será um dos cardeais que voltará para o seu país de origem e não seguirá no Vaticano", disse a fonte.
A nomeação de Tucho foi considerada a mais importante do pontificado de Francisco. Como consequência, houve uma série de ações consideradas "fora do comum", por meio "da mão de um prefeito que sabe perfeitamente que é o alter-ego de Francisco e que goza de sua absoluta confiança", disse o teólogo Massimo Faggioli, italiano e autor de diversos livros e artigos científicos e professor da Universidade Villanova, nos EUA.
O documento redigido por Fernandez sobre a benção aos homossexuais não alterou a doutrina tradicional da Igreja sobre o casamento, mas promoveu uma abertura sobre a bênção, sem julgamento. Na época, o papa Francisco disse que "as bênçãos, fora de qualquer contexto e forma litúrgica, não exigem a perfeição moral para serem recebidas".
Cardeal recebeu ameaças por bênção a homossexuais
Ao jornal italiano "La Stampa", Tucho revelou que foi ameaçado três vezes pelo documento que assinou com o papa Francisco. "Chegaram três mensagens de ameaças: 'Te destruiremos", relatou o cardeal.
Antes de tornar-se o braço direito de Francisco, o papa perguntou se Fernandez estava disposto para o cargo de prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, e o cardeal disse que não. Fernandez estava preocupado que sua nomeação trouxesse problemas para o pontífice, principalmente entre a ala mais conservadora do catolicismo.
Em entrevista ao jornal The Washington Post, Fernandez afirmou que "sabia que alguns grupos não me queriam e a julgar pelo que me escreveram nas redes sociais, eles estavam dispostos a qualquer coisa (...) Eu não queria ser mais uma causa de problema para Francisco", disse.
Ações progressistas de Tucho
Tucho irritou alas conservadoras do Vaticano. Além da bênçãos a homossexuais, o braço direito de Francisco assinou o documento que permitia que pessoas transgêneras pudessem ser batizadas e se tornassem padrinhos ou madrinhas de batizados.
O cardeal argentino disse durante visita à Universidade de Colônia, na Alemanha, que a Igreja não era favorável à cirurgia de mudança de gênero, mas ponderou dizendo que com isso não queria ser "cruel". Ele ainda observou que situações mais graves de sofrimento das pessoas que não se identificam com seu corpo podem levar até ao suicídio e deveriam ser "avaliadas com muito cuidado".
A despedida de Francisco
Tucho Fernandez teve a oportunidade de se despedir de Francisco em um momento privado. Ele disse aos jornais que "seu coração ficou misturado: um grande estreito e uma emoção profunda por ver ali o Jorge (Bergoglio), o amigo, o homem que sempre me deu alento nos momentos duros e nunca me deixou cair".
Para mim, era uma figura imensa. Sua voz segue dentro de mim dizendo: "'Tucho, força'. Esse mundo, que parece órfão e sem rumo, perdeu um pai. Um pai universal Tucho Fernandez sobre papa Francisco
Natural de Córdoba, o cardeal é conhecido entre os religiosos como o homem mais parecido com o papa Francisco e a relação de amizades entre eles é longa. Fernandez foi nomeado por Bergoglio, quando o mesmo ainda era arcebispo de Buenos Aires, como reitor da Universidade Católica Argentina, em 2009. Em 2018, Francisco o designou como arcebispo de La Plata, cidade a 60 quilômetros da capital argentina.
País do último papa, a Argentina terá quatro resentantes no conclave que começa dia 7 de maio. Além de Tucho Fernandez, estarão Angel Sixto Rossi, de 66 anos, arcebispo de Córdoba; Vicente Bokalic Iglic, de 72 anos, de Santiago del Estero; e o arcebispo emérito de Buenos Aires, Mario Aurelio Poli, de 77 anos.
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