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André Santana

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sem palanque na Bahia, Bolsonaro vê aliados do centrão se afastarem

Depois de ignorar enchentes na Bahia, presidente Jair Bolsonaro tenta viabilizar apoios no estado - Clauber Cleber Caetano/Presidência da República
Depois de ignorar enchentes na Bahia, presidente Jair Bolsonaro tenta viabilizar apoios no estado Imagem: Clauber Cleber Caetano/Presidência da República

Colunista do UOL

17/03/2022 04h00

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Depois de ignorar as enchentes que devastaram cidades do sul da Bahia em dezembro, preferindo manter as férias no litoral do Sul do país, enquanto milhares de pessoas ficaram desabrigadas e dezenas perderam suas vidas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi ontem à Bahia em clima de campanha eleitoral.

Na busca pela reeleição, Bolsonaro ainda está sem palanque garantido no estado, que é o quarto maior colégio eleitoral do país. O presidente terá que reverter a alta rejeição que tem no estado. Como mostra vídeo publicado pelo UOL, Bolsonaro foi recebido em Salvador com vaias e xingamentos de estudantes.

Na capital baiana, Bolsonaro visitou o Hospital Santo Antônio, criado pela Santa Dulce dos Pobres, e que passa pela pior crise financeira desde a fundação, em 1959.

Gerido pela OSID (Obras Assistenciais Irmã Dulce), o hospital oferece atendimento gratuito, sendo o destino certo da população mais carente. A instituição realiza, em média, 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais por ano e cerca de 23 mil cirurgias em várias especialidades médicas.

O aumento da demanda causada pela pandemia de covid-19 elevou os gastos do hospital. Por outro lado, não houve reajuste dos repasses feitos pelo governo federal em um convênio com o SUS (Sistema Único de Saúde). O valor do recurso repassado à instituição é o mesmo há cinco anos.

Funcionários da OSID abraçam hospital em crise  - Romildo de Jesus - Romildo de Jesus
Funcionários da OSID abraçam hospital em crise
Imagem: Romildo de Jesus

O déficit é de quase R$ 24 milhões --até o final do ano, será aumentado em mais R$ 20 milhões. Caso a situação não seja resolvida, o hospital pode fechar as portas, algo que nunca aconteceu desde que a freira decidiu cuidar dos doentes.

O trabalho comunitário, iniciado na década de 1930, por Maria Rita Lopes Pontes, a irmã Dulce, se tornou a mais importante organização de assistência social da Bahia.

Bolsonaro perde aliados na Bahia

A Bahia é um dos estados com maior rejeição ao governo Bolsonaro.

Nas eleições de 2018, Bolsonaro obteve pouco mais de 27% dos votos dos baianos. Ganhou do adversário, Fernando Haddad (PT), em apenas quatro dos 417 municípios do estado.

Na campanha pela reeleição, o presidente terá ainda mais dificuldade para angariar votos e encontrar palanque no estado.

O PP (Partido Progressista), que apoia Bolsonaro nacionalmente, ocupa a cadeira de vice no governo estadual administrado pelo PT e tende a seguir com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato à Presidência da República.

O partido é o segundo em número de prefeituras na Bahia e seu líder, o vice-governador João Leão, já anunciou que, independentemente do rompimento com o grupo petista local, apoiará Lula.

Outro que não quer ter sua imagem associada a Bolsonaro é o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, pré-candidato ao governo da Bahia pelo União Brasil.

A estratégia de partidos como o PP, de se desvincular da imagem desgastada de Bolsonaro, deu certo nas eleições de 2020 e a capital com maior índice de rejeição ao presidente deu vitória a partidos da base do presidente.

Neto sabe da força de Lula na disputa eleitoral na Bahia. Com apoio de Lula, o PT garantiu quatro vitórias consecutivas no estado, todas no primeiro turno.

Os petistas aguardam a visita de Lula à Bahia para oficializar como candidato do PT ao Executivo do estado, Jerônimo Rodrigues, atual secretário de Educação do Governo.

A aposta é que o apoio de Lula, do governador Rui Costa (PT) e do senador Jaques Waqner (PT) turbine uma possível candidatura de Jerônimo, pouco conhecido pelos eleitores baianos.

Presidente pode ficar sem palanque na Bahia

Resta a Bolsonaro insistir na candidatura do atual ministro da Cidadania, João Roma (PR). O problema é que os republicanos caminham ao lado de ACM Neto e tentam inviabilizar essa possível candidatura.

Até ingressar no governo bolsonarista, em fevereiro de 2021, o ministro integrava o grupo político de Neto. O ex-prefeito de Salvador considerou "lamentável" a aproximação do seu ex-chefe de gabinete na prefeitura com o presidente da república.

Se o nome de Roma não vingar, Bolsonaro poderá ficar sem um forte cabo eleitoral na Bahia, justamente o ministro à frente do eleitoreiro Auxílio Brasil, aposta dos bolsonaristas para tentar reverter a rejeição entre os mais pobres, especialmente do Nordeste.

Os apoiadores do presidente na capital baiana o recepcionaram ontem com gritos de "mito", na visita ao Hospital Santo Antônio, que fica Largo de Roma, Cidade Baixa. Bolsonaro aproveitou para circular próximo à aglomeração, garantindo imagens para sua campanha.

Bem perto dali está a Colina Sagrada, onde fica a Igreja do Senhor do Bonfim, santo de maior devoção do povo baiano. Os bolsonaristas chegaram a divulgar nas redes a possível ida do presidente ao popular santuário.

Nem apelando para todos os santos, o mandatário terá sua imagem melhorada entre os baianos, após quase quatro anos de descaso e falta de compromisso com o cargo para o qual recebeu a confiança dos eleitores do Brasil.