André Santana

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Opinião

Pedido de anistia é hipocrisia na boca de punitivistas antidemocráticos

Com a aceitação por parte dos ministros da 1ª turma do STF das denúncias contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete aliados, a Justiça atinge o núcleo da trama golpista que atentou contra a democracia em 8 de janeiro de 2023.

Assim como os demais réus que respondem por tentativa de golpe, invasão, depredação do patrimônio público e outros crimes contra o Estado Democrático de Direito, os golpistas tentam relativizar seus atos e mantêm discursos vitimistas de perseguição política. Com isso, intensificam os ataques à Justiça e a tentativa de distorcer os fatos, minimizando as ações e acusando o exagero da punição.

São discursos que não se sustentam nem na gravidade dos atos cometidos e nem no histórico dos envolvidos, que sempre defenderam punições severas, sem indulgência. A hipocrisia dos golpistas finalmente está sendo exposta à luz da Justiça. Aqueles que se dizem nacionalistas, defensores da Pátria e dos valores tradicionais foram os primeiros a atacar os símbolos máximos da democracia brasileira.

Inconformados com a derrota nas urnas, não hesitaram em vandalizar os prédios dos Três Poderes, desrespeitar a Constituição, zombar da Justiça e ameaçar o próprio Estado de Direito. Agora, os principais articuladores dessa tentativa de golpe, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro e comandantes militares, denunciados como líderes da organização criminosa, enfrentam as consequências de seus atos.

"Não foi um passeio no parque"

A maior contradição desse grupo bolsonarista é justamente tentar minimizar a gravidade de suas ações. Não foi um protesto legítimo, muito menos uma manifestação pacífica. Foi um atentado contra a democracia, uma tentativa frustrada de impor um governo já rejeitado pelo povo nas urnas.

Antes da investida violenta, esses mesmos radicais já haviam apelado para os militares, rezado em portas de quartéis e, num delírio desesperado, até para extraterrestres. Como bem pontuou o ministro Alexandre de Moraes, "não foi um passeio no parque".

Agora, diante da condenação, os golpistas clamam por clemência e acusam a Justiça de ser implacável. Mas onde estava essa compaixão quando defendiam penas rigorosas para qualquer crime, real ou imaginado?

São os mesmos que pregam a redução da maioridade penal, apoiam a castração química, a pena de morte, o linchamento coletivo e uma fatídica guerra às drogas que criminaliza e massacra comunidades inteiras.

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Aplaudem execuções sumárias nas periferias, exaltam a brutalidade policial contra trabalhadores e ativistas por direitos humanos, e não demonstraram um pingo de sensibilidade diante do sofrimento alheio.

São os mesmos contrários ao perdão de quem furta comida, inocentado pelo princípio da insignificância garantido por lei.

Agora, de repente, se dizem vítimas de um sistema que sempre idolatraram quando aplicado contra os mais pobres, os com menos acesso aos direitos, os marginalizados pelo poder.

O cinismo se agrava quando tentam romantizar seus crimes, pintando os golpistas como "senhoras ingênuas", patriotas mal compreendidos. Mas são os próprios que sempre desprezaram qualquer discurso em defesa das mulheres, dos direitos humanos ou da ressocialização de presos.

Bradam contra dispositivos jurídicos que tentam garantir um mínimo de dignidade humana, como: as Audiências de Custódia; o Princípio da Insignificância, que pode inocentar quem furta comida; e a prisão domiciliar para grávidas ou mães de recém-nascidos. Para atacar esses direitos, repetem a ladainha: "a Polícia prende, a Justiça solta".

São os fanáticos que repetem slogans genocidas como "bandido bom é bandido morto", mas que agora pedem anistia depois de quase destruírem a democracia brasileira.

Sem Anistia

A hipocrisia se torna ainda mais evidente quando se observa que os mesmos que hoje clamam por anistia foram ferozes críticos dos processos de recontar a história política do país.

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Sempre se opuseram à anistia de ativistas que lutaram contra a ditadura militar, chamando-os de "terroristas" e "subversivos", mesmo quando esses defendiam a restauração da democracia violentada por governos autoritários.

Recentemente, fracassaram humilhantemente em uma tentativa de boicote ao filme Ainda Estou Aqui, por colocar o dedo na ferida dos anos de autoritarismo e violência. Continuam atacando a memória de militantes, tanto os que sobreviveram ao regime e até os desaparecidos sem direito ao conhecimento dos seus paradeiros.

Agora, querem que a Justiça feche os olhos para seus próprios crimes, quando a diferença fundamental é que aqueles que resistiram à ditadura estavam do lado da liberdade, enquanto os golpistas de 8 de janeiro tentaram destruí-la.

Como alertou o ministro Flávio Dino do STF: golpe de Estado mata". E se desta vez não matou, foi apenas porque fracassou.

A democracia sobreviveu ao ataque, mas não pode permitir que a impunidade alimente novos atentados no futuro.

Justiça deve ser feita para que nunca mais essa corja se sinta encorajada a desafiar a soberania popular e os direitos fundamentais da nação. Que sirva de exemplo.

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Sem anistia para golpistas.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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