Andreza Matais

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Reportagem

Post de Ana Furtado sobre mamografia pode virar nova 'crise Pix' no governo

Uma consulta pública realizada pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) pode se tornar a próxima dor de cabeça do governo depois da crise do Pix, quando o governo demorou a agir e perdeu a narrativa nas redes sociais.

O órgão regulador quer estimular as operadoras de planos de saúde a realizarem a mamografia de rastreio (que permite a detecção precoce de possíveis tumores) para mulheres de 50 a 69 anos, de dois em dois anos.

A consulta levantou questionamentos nas redes, com receio de que os planos de saúde passem a utilizar uma regra nesse sentido como justificativa para não autorizar a mamografia de rastreio para mulheres a partir dos 40 anos, como ocorre atualmente, e anualmente.

Em nota à coluna, a ANS negou que a eventual norma vá alterar esse entendimento (leia mais abaixo).

A apresentadora Ana Furtado, que enfrentou um câncer de mama aos 44 anos, iniciou uma campanha em sua conta no Instagram, onde tem 6,1 milhões de seguidores, para que a sociedade se posicione contra a consulta, classificada por ela como "um absurdo". Os interessados no tema podem enviar contribuições por meio do formulário da Consulta Pública nº 144, disponível no portal da ANS até esta sexta-feira (24).

"Existe risco real de que a gente tenha nossos pedidos de mamografia sendo negados pelos planos de saúde caso uma resolução [consulta] da ANS não seja derrubada", diz ela, que afirma que, das mulheres com câncer de mama no Brasil, 40% receberam o diagnóstico antes dos 50 anos e 22% das mortes acontecem nesse grupo.

A apresentadora cita um relatório do Inca (Instituto Nacional de Câncer) de 2024, indicando que cerca de 40% das mulheres diagnosticadas no SUS com a doença já chegam em estágio avançado. O SUS só permite a mamografia de rastreio a partir dos 50 anos, "apesar de nossos esforços para reduzir a idade para 40 anos no sistema público", acrescenta Furtado.

"Eu tive câncer aos 44 anos de idade. Eu só estou viva aqui fazendo esse alerta porque fiz a mamografia de rastreio desde os 40 anos. Descobri um tumor inicial e me curei", testemunha.

Até a publicação desta reportagem, o vídeo tinha 306 mil curtidas, 10,9 mil comentários e 283 mil compartilhamentos.

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A consulta repercutiu no Congresso. "Discordo da recomendação de rastreamento bienal entre 50-69 anos. O ideal seria mudar o rastreamento para o que CBR [Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem], a SBM [Sociedade Brasileira de Mastologia] e Febrasgo [Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia] preconizam o rastreamento anual a partir de 40 anos", disse o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), que é médico.

A ANS disse à coluna que "a proposta não tem relação e não altera a cobertura assistencial garantida pelo Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da ANS, que dá direito ao exame do câncer de mama com mamografia bilateral para mulheres de qualquer idade, conforme indicação médica, e com mamografia digital para mulheres de 40 a 69 anos."

"A consulta pública propõe, como um dos critérios a serem avaliados para fins de certificação de boas práticas em oncologia, a realização de rastreamento populacional do câncer de mama, por meio de contato proativo realizado pelas operadoras de planos de saúde com suas beneficiárias em idades entre 50 e 69 anos", acrescenta. "Atualmente, há 18,9 milhões de mulheres com plano de saúde nessa faixa etária."

A agência afirma ainda que a proposta segue a metodologia de estudo utilizada pelo Inca.

O Ministério da Saúde não se posicionou sobre a consulta da ANS, mas disse, em nota à coluna, que "todos os pacientes com indicação médica têm direito e acesso a exames de diagnóstico do câncer de mama, como mamografia, ultrassonografia ou ressonância magnética" pelo SUS.

"Sobre o exame de rastreamento, o Ministério da Saúde, neste momento, segue orientação do Inca para que todas as mulheres de 50 a 69 anos façam o exame a cada dois anos —tendo como base também evidências da Organização Mundial da Saúde."

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A pasta afirma, sem especificar, que incorporou 13 novas tecnologias para tratamentos oncológicos, "o maior número da última década".

"O Ministério da Saúde reforça a importância do acompanhamento da saúde da população pelas unidades básicas de saúde para prevenção e encaminhamento adequado à assistência especializada", conclui.

Reportagem

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