Andreza Matais

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Opinião

Ao atacar o Ibama, Lula faz sua versão de 'passar a boiada'

Em campos políticos opostos, o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro convergem nas críticas e tentativas de interferência nas decisões técnicas do Ibama.

Nesta quarta-feira (12), o presidente Lula disse que o "Ibama parece que trabalha contra o governo" e cobrou do órgão uma decisão favorável à liberação de estudos que possam abrir caminho para a exploração de petróleo na Margem Equatorial do Amapá.

"Talvez essa semana ainda vá ter uma reunião da Casa Civil com o Ibama e nós precisamos autorizar a Petrobras a fazer pesquisa [na Margem Equatorial]. É isso que queremos. Se depois vamos explorar, é outra discussão. O que não dá é ficar nesse lenga-lenga. O Ibama é um órgão do governo, parecendo que é um órgão contra o governo", afirmou em entrevista à Rádio Diário FM, de Macapá, nesta manhã.

Bolsonaro também fez várias críticas ao órgão durante seu mandato e foi além. Impôs medidas para asfixiar o Ibama com cortes de verbas e contratação de pessoal, além de tentar dificultar a fiscalização e aplicação de multas ambientais.

Já fora do governo, Bolsonaro disse em um evento sobre o Ibama: "Quanto menos dessa gente por aí, melhor para todo mundo."

No governo do ex-presidente, o então ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, chegou a sugerir, em reunião ministerial, que se aproveitasse que a cobertura da imprensa estava focada na pandemia da Covid-19 para "passar a boiada", mudando regras ligadas à proteção ambiental e à área de agricultura e evitando críticas e processos na Justiça.

A interferência foi duramente criticada pelo PT à época. O relatório da equipe de transição de Lula constatou a situação do Ibama pós-Bolsonaro:

"Enquanto o IBAMA tinha 1.800 servidores atuando na fiscalização ambiental em 2008, agora são apenas cerca de 700, nem todos em campo. Houve efetivo aparelhamento e ocupação de cargos gerenciais e de direção sem capacidade técnica e política de atuação na área de proteção e gestão ambiental. São contundentes os casos de perseguição e assédio aos servidores dos órgãos."

Passados dois anos de mandato, Lula ainda não ampliou o número de vagas. Somente neste ano, um concurso público foi aberto para preencher 460 vagas no Ibama.

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A BBC fez um levantamento dos projetos considerados "antiambientais" do governo Lula até março de 2023:

Pavimentação da BR-319, que corta uma das regiões mais preservadas da Amazônia

Exploração de petróleo na região da foz do Rio Amazonas, uma das regiões mais ambientalmente sensíveis do país

Obras da Ferrogrão, uma estrada de ferro projetada para escoar a produção de grãos do Centro-Oeste pela região Norte, mas que, segundo entidades, pode causar prejuízo a inúmeras comunidades indígenas.

Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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