Em crise, Gol e Azul gastam milhões com reajuste salarial de executivos
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A Azul e a Gol aumentaram em até 31% os gastos com salários e benefícios de seus executivos, ao mesmo tempo em que enfrentam uma crise financeira — usada como justificativa para solicitar a fusão das duas companhias aéreas.
Se o negócio for autorizado pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), essas empresas passarão a concentrar 60% do mercado doméstico de transporte aéreo no país. Isso significa que os consumidores terão, basicamente, apenas duas companhias aéreas de grande porte (a nova empresa resultado da fusão e a Latam), que irão concentrar 98% do mercado.
No total, há 16 companhias autorizadas a operar voos regulares, segundo dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), mas a maioria delas oferece poucos trechos.
Mesmo em recuperação judicial, a Gol registrou em seu balanço um aumento de R$ 23,1 milhões nos pagamentos a executivos em 2024, na comparação com o ano anterior. Em 2023, foram R$ 73,1 milhões, enquanto em 2024 o valor subiu para R$ 96,2 milhões no ano fechado — um crescimento de 31,5%, bem acima da inflação do período. São 12 executivos, entre conselho de administração, diretoria e conselho fiscal. Não há dados sobre os valores individualizados.
A Azul, que não registra lucro desde 2019, também elevou seus gastos com salários e benefícios de executivos, passando de R$ 83,5 milhões em 2023 para R$ 98,13 milhões em 2024.
A coluna apresentou os números às duas companhias e questionou o que justificaria o reajuste diante da situação financeira. Ambas se recusaram a comentar o assunto. "A companhia não vai comentar a respeito", disse a Azul — mesma resposta encaminhada pela Gol.
Em documento registrado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em 2023, a GOL justificou reajuste salarial assim: "De maneira geral, para garantir as melhores práticas de mercado, realizamos anualmente pesquisas salariais conduzidas por consultorias especializadas a fim de manter nossa estratégia de remuneração alinhada com os nossos objetivos e de nossos colaboradores, mantendo-nos competitivos."
Em janeiro, as duas companhias obtiveram um abatimento de R$ 4,8 bilhões em suas dívidas com a União, por meio de transações tributárias, conforme mostrou o colunista Graciliano Rocha, do UOL. Nesta segunda-feira, a Azul ofertou ações com o objetivo de captar R$ 4,1 bilhões para tentar tirar a empresa do vermelho.
Concentração do mercado versus preço
Em novembro, o ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) disse à coluna que não vê problemas na concentração do mercado aéreo. Segundo ele, para obter melhores preços, os consumidores devem comprar seus bilhetes com maior antecedência e ficar atentos às promoções.
"A gente está trabalhando para incutir no brasileiro a cultura de comprar passagens com mais antecedência", disse na ocasião.
O ministro não se opõe à abertura do mercado interno para companhias aéreas estrangeiras, uma demanda dessas empresas, mas não considera essa medida uma prioridade do governo.
"A gente está esperando a retomada da produção de aeronaves para que possamos fazer essa abertura do mercado. Há muitas companhias aéreas, como a Ibéria [da Espanha], que querem vir para o Brasil operar rotas internacionais e, no futuro, já admitem interesse nas rotas nacionais. Mas, para isso, precisam que a indústria de aviação do mundo seja retomada", disse.
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