Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Por que estamos ouvindo Sergio Moro?
A intensa polêmica que se deu em razão da fala do ex-presidente Lula sobre a ditadura da Nicarágua diz muito sobre o atual estágio em que a disputa política se dá em nosso país. Ainda que a fala tenha sido descontextualizada - e hoje é um fato que vivemos na época dos cortes e edições -, o tema em questão, convenhamos, é atualmente de menor importância. Mesmo assim, a declaração foi objeto de intensos debates, artigos e movimentou, durante pelo menos um dia inteiro, palanques e manifestações públicas de parlamentares. Enquanto isso, mais de 19 milhões de brasileiros passam fome e o Congresso aprova medidas que jogam às favas a segurança jurídica, como a PEC dos Precatórios, sem contar a questão do furo no teto de gastos.
Semanas antes da polêmica nicaraguense outro tema povoou os noticiários: as placas do banheiro de uma lanchonete na cidade de Bauru. A celeuma foi tanta que a prefeita da cidade, de 380 mil habitantes, chegou a ir ao estabelecimento para publicamente se manifestar. Placa de banheiro, minha gente? O Brasil enfrenta uma alta de preços angustiante, um número visivelmente crescente de pessoas em situação de rua ocupando a cada dia mais espaço nas grandes cidades, a gasolina com preços impagáveis, o gás de cozinha substituído perigosamente pelo álcool... e a sinalização de um espaço vira tema de discussão?
Estamos a menos de um ano das eleições presidenciais, e, entre a Nicarágua e banheiros públicos, agora nos dignamos a ter que ouvir um ex-juiz federal, incompetente e suspeito, e ex-ministro da Justiça que passou incólume pelo cargo, que não deixou uma medida minimamente positiva, se arvorar ao cargo de salvador da nação.
Quem é Sergio Moro na fila do pão para falar sobre a pobreza, para falar sobre economia e para falar sobre como endireitar os rumos de um país de proporções continentais tão malconduzido? O discurso de Moro sobre a economia, da profundidade de um pires, chega ser risível. Moro afirmou - pasmem! - que a pobreza, dentre outros graves problemas do Brasil, muitas vezes tem soluções simples.
Isso mesmo, leitores. Resolver a pobreza no país, para Moro, parece ser simples. Chegou ele a dizer, em seu discurso de filiação, que criaria uma força-tarefa para enfrentá-la, achando que colocar comida no prato é a mesma coisa que conduzir um processo rasgando a lei, desrespeitando direitos e com uma Constituição própria embaixo dos braços.
Sua passagem pelo Ministério da Justiça, que ainda precisa ser passada a limpo, foi marcada pela ineficiência e por polêmicas.
Houve denúncias de aparelhamento da Polícia Federal com intuito de proteger o entorno da família Bolsonaro e, inclusive, a troca de nomes importantes da instituição como seu diretor-geral, segundo o Presidente, seria feita apenas com a promessa de o ex-juiz ser nomeado ministro do STF. Uma vergonha.
A pretensão política de Moro é legalmente legítima. Dele e de quem queira nesse campo atuar, mas convenhamos que há um caminho, há uma história. O Brasil não precisa de mais um salvador da pátria, de um messias. Precisa sobretudo de um gestor. Dos nomes até agora lançados para o cargo de Presidente da República há figuras de diferentes campos ideológicos, de diferentes partidos, experientes e com reais propostas. Existe a possibilidade vasta de escolha - ela não é difícil -, e nenhuma passa pelo nome de Sergio Fernando Moro.
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