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Augusto de Arruda Botelho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Passaporte vacinal: a liberdade de ser um idiota

Comprovante de vacinação covid-19, passaporte da vacina - Tânia Rêgo/Agência Brasil
Comprovante de vacinação covid-19, passaporte da vacina Imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Colunista do UOL

10/12/2021 04h00

Vacina não é um ato individual e isolado, é necessariamente um pacto coletivo. Para a sua eficácia, é essencial que o maior número de pessoas possível se vacine.

Sabemos que nosso país é um exemplo positivo em campanhas e na adesão da população à vacinação. Sabemos também que, ao longo da nossa história, essa medida não foi contestada, e o dever que todo cidadão tem de se vacinar vem também sem contestação. A confirmação disso se dá numa mera análise da nossa vida: em algum momento, enquanto recém-nascido, criança ou adolescente, você ou seus pais se questionaram sobre a obrigação de nos vacinarmos, de acordo com o calendário oficial da vacinação brasileira? Você se recorda, em algum momento da sua vida, do seu pai ou algum parente dizendo "não, essa vacina de sarampo aí não é para tomar" ou "como assim agora eu sou obrigado a tomar a vacina de meningite?" Não! Nós nos vacinamos e ponto. E por uma razão bem simples: acreditamos na ciência.

Mais do que isso, nunca contestamos, por exemplo, a obrigação imposta por escolas de apresentarmos no momento da matrícula a caderneta de vacinação dos seus futuros alunos. E a razão mais uma vez é bastante simples: um aluno não vacinado, alheio ao pacto coletivo, coloca em risco as outras crianças. Há outros pactos também que, de certa forma, cerceiam nossa liberdade individual, mas nem por isso são contestados. Alguém sai por aí escrevendo artigos ou fazendo manifestações nas ruas pelo seu livre direito de fumar dentro de um avião? De dirigir um veículo sem uma carteira de habilitação? Não.

Causa, portanto, estranheza (para dizer o mínimo) toda a polêmica recentemente criada em nosso país sobre o passaporte vacinal. Os números comprovam - e aqui não há contestação - que atualmente os casos graves de Covid-19 e a imensa maioria das pessoas que se encontram hospitalizadas em razão dessa doença ali estão por não terem se vacinado. Comprovado também está que não vacinados transmitem mais o vírus. A exigência da comprovação da vacinação para frequentar determinados lugares é, portanto, consequência lógica e natural da necessidade de nos protegermos melhor. O ideal, a bem da verdade, seria que a conscientização fosse tamanha que sequer um documento comprobatório devêssemos ter que mostrar, mas infelizmente uma pequena parcela de negacionistas obrigou algumas autoridades a cogitar a implementação da exigência da apresentação desse documento.

O poder judiciário, já atento à importância da vacina, decidiu acertadamente que ela é obrigatória, mas não pode ser forçada. Portanto, para você, que por alguma razão - e aqui tenho dificuldade de imaginar qual, a não ser alguma recomendação médica - optou por não se vacinar, saiba que o Estado jamais o forçará a isso. A liberdade de ser um idiota você tem, mas, por favor, exerça a sua ignorância dentro de casa.