Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Bolsonaro vacinou seus filhos?
Tenho três filhos: o Téo, de 11 anos, a Iolanda, de 5, e o Santiago, de 3. Eles, como a gigantesca maioria das crianças brasileiras, tomaram todas as vacinas previstas no nosso calendário obrigatório. As razões para tanto são bastante simples: primeiro, acreditamos na ciência e temos certeza de que, se uma vacina foi indicada por autoridades médicas e aprovada pelos órgãos competentes, é porque ela é eficaz; segundo, porque essa eficácia inclusive compõe um pacto social. A vacina, ao fim e ao cabo, também é isso: uma forma de todos, em conjunto, além de individualmente nos protegermos, conseguirmos também proteger o próximo
Estou, como muitos pais e mães, há meses aguardando o início da vacinação contra a Covid-19 em crianças − pelo menos para aquelas a quem a ciência atualmente recomenda: as maiores de 5 anos. Essa espera é angustiante porque, por mais que se diga que a nova variante, a Ômicron, é menos grave e que a Covid em crianças pode ter um impacto na saúde menor do que em adultos, há milhares de relatos de crianças não vacinadas que tiveram sim complicações em razão do vírus. E, para qualquer mãe e pai, uma simples febre, um nariz escorrendo, uma tosse em um filho já é motivo de preocupação, de noites maldormidas e de orações. Para nossos filhos não existe risco mínimo a correr. E, em comparação - e os estudos comprovam isso -, entre possíveis reações adversas da vacina e complicações trazidas pela doença, os números de longe comprovam que é muito mais seguro vacinar as crianças.
As autoridades sanitárias brasileiras já aprovaram o início da vacinação. As autoridades internacionais de grandes democracias do mundo também. A vacinação nesses países, inclusive, há muito tempo começou. No Brasil, apesar de termos estoques de vacinas para começar já a vacinação em crianças, ainda não começamos por uma simples razão, e essa razão tem nome: Jair Messias Bolsonaro.
Não contente em ser diretamente responsável por milhares das mais de 600 mil mortes causadas pela Covid, agora o sadismo de Bolsonaro poderá carregar para si a enfermidade em crianças. Os malabarismos retóricos ou científicos usados até o momento para atrasar o início da vacinação não passam de um jogo de cena, uma tentativa desesperada de manter acesa a chama de uma discussão estúpida, negacionista e anticiência, típica daqueles que ainda apoiam o Presidente da República.
Bolsonaro não vacinou as crianças porque pensa eleitoralmente, com a cabeça de quem pretende se reeleger. Ele vai acabar cedendo: em pouco tempo as crianças começarão a se vacinar, mas as semanas em que ele brincou de fazer oposição à ciência simplesmente para agradar a manada que o apoia podem ter custado muito caro.
Sempre soubemos que Bolsonaro não tem apreço à vida (não podemos esquecer que esse homem homenageou um torturador dentro do Congresso Nacional), mas pelo menos para mim nunca passou pela cabeça que nem as crianças ele respeitasse.
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