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Pânico na Bolsa e dólar vai a R$4,80: atos do dia 15 sobem no telhado

Cris Fraga/Estadão Conteúdo
Imagem: Cris Fraga/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

09/03/2020 14h04

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Se ainda faltavam argumentos para os ministros militares que tentam convencer o presidente Jair Bolsonaro a desistir dos atos do dia 15 em defesa do governo, o derretimento do mercado financeiro nesta manhã de segunda-feira pode ser a gota d´água.

Pela primeira vez em três anos, foi acionado o "circuit braker" na Bolsa de São Paulo quando a queda chegou a 10% e o dólar batia em R$ 4,80. Antes do meio-dia, os trabalhos foram reabertos, mas o pânico estava instalado.

"Ministros aconselham Bolsonaro a pedir cancelamento dos atos", publicou a repórter Vera Magalhães logo cedo no Twitter, apontando como motivos o recrudescimento do surto de coronavírus e o fraco desempenho do PIB em 2019.

Mas se o presidente consultar seu ministro da Economia, Paulo Guedes, vai ter uma visão bem mais cor-de-rosa da situação. Em meio ao furdunço na Bolsa, ele deu a seguinte declaração:

A equipe econômica é capaz, experiente, segura e está absolutamente tranquila quanto a nossa capacidade de enfrentar a crise, mas precisamos das reformas. Brasil pode ser realmente um país que transformou a crise em reaceleração do crescimento, geração de empregos em um mundo que está com sérios problemas.
Paulo Guedes

Não é só o mundo que está com sérios problemas, a não ser que Guedes viva em outro mundo. No quartel palaciano, falava-se até em convocar rede nacional de rádio e televisão para Bolsonaro desconvocar seus seguidores.

As seguidas más notícias na economia e a crise com o Congresso, que se agravou outra vez no final de semana, com o discurso inflamado para o povo ir às ruas no dia 15, "em defesa do Brasil", feito pelo presidente na Base Aérea de Roraima, anunciam outra semana de cão.

Ao mais uma vez depositar nas reformas todo o cacife do governo para reaquecer a economia, Guedes pode estar apostando no mercado futuro, mas até aqui a realidade dos números aponta em sentido contrário.

De outro lado, ao apostar no tudo ou nada para demonstrar apoio popular, a depender da adesão aos atos, a favor e contra o governo, marcados para este mês de março, Bolsonaro pode estar dificultando ainda mais a aprovação das ditas reformas no Congresso.

No domingo, apesar da forte chuva, milhares de mulheres foram à avenida Paulista, em São Paulo, para protestar contra Bolsonaro e em defesa da democracia. Em outras capitais, também foram registradas manifestações denunciando a crescente onda de feminicídios e em defesa dos direitos das mulheres.

Dia 14, na véspera dos atos pró-Bolsonaro, estão marcados novos protestos para lembrar os dois anos do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, um crime até hoje sem identificação dos mandantes.

O fato novo em São Paulo foi a presença de nove organizações religiosas evangélicas, com a bandeira "quem é cristão não apoia a ditadura, Bolsonaro não é cristão coisa nenhuma".

Enquanto a Bolsa continuava operando com uma queda acima de 10%, no final da manhã, pelo menos 3.500 pessoas do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) ocuparam áreas do Ministério da Agricultura e do Incra numa manifestação contra o governo.

Sob o lema "eu não tenho medo", a "Jornada de Luta das Mulheres Sem Terra" protestou contra a titularização das terras distribuídas pelo Incra, os cortes nos investimentos públicos e o aumento do número de agrotóxicos permitidos pelo governo, segundo notícia do UOL.

Para o governo, este é o perigo, quando chama o povo a ir às ruas: como não faltam motivos de descontentamento, os protestos acabam se multiplicando e fogem ao controle, como aconteceu com as Jornadas de Junho, em 2013.

Quando não há uma reivindicação específica, aparece todo tipo de queixa e demanda nos protestos, até gente levando cartaz para vender carro usado em bom estado.

Vida que segue.