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Balaio do Kotscho

Quem mandou matar Marielle? Por que Bebianno tinha medo de falar?

Colunista do UOL

14/03/2020 13h36

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Por uma dessas trágicas coincidências da vida, o ex-ministro Gustavo Bebianno morreu nesta madrugada, aos 56 anos, vítima de infarto fulminante, no mesmo dia em que são lembrados no Rio os dois anos do assassinato da vereadora Marielle Franco.

As mortes de Marielle e Bebbiano deixaram muitas perguntas no ar.

Até hoje não se sabe quem mandou matar Marielle e por quais motivos.

Quais eram os motivos de Bebianno para ter medo de falar tudo o que sabia sobre os bastidores da campanha presidencial de 2018, como revelou nos intervalos de sua entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, apenas duas semanas atrás, segundo relatou a colega Constança Rezende, aqui mesmo no UOL?

"Ao ser pressionado por jornalistas, fora do ar (sobre as razões desse temor), respondeu: ` Está vendo aquele ali (apontando para o seu filho) é o meu único segurança´ O relato sobre o medo foi feito após os jornalistas insistirem para que Bebianno falasse quem seria o delegado da Polícia Federal que teria participado da tentativa de montagem de uma Agência Brasileira de Inteligência (Abin) paralela no governo".

Por outra coincidência, a Folha publica hoje na coluna Painel uma frase de Gustavo Bebianno sobre o processo de fritura de que agora é alvo o ministro Luis Eduardo Ramos:

"Todos que tentam trabalhar terminam alvejados pelas costas. O Brasil ainda vai enxergar quem são Bolsonaro e seus filhotes".

Pré-candidato à Prefeitura do Rio, pelo PSDB, Bebianno tinha sido demitido da chefia da Secretaria Geral logo no início do governo Bolsonaro, ao entrar em choque com o filho Carlos, o 02, depois de comandar a vitoriosa campanha presidencial.

De fiel aliado a desafeto da família, o ex-ministro foi bastante crítico ao governo na entrevista do Roda Viva, mas evitou entrar em detalhes sobre assuntos polêmicos, como quando foi questionado sobre a compra de duas vans por Bolsonaro, uma delas dada de presente a um amigo do ex-policial militar Fabrício Queiroz, apontado no suposto esquema de rachadinha do então deputado estadual Flávio Bolsonaro,

Velho amigo e funcionário do clã presidencial, Fabrício Queiroz também era ligado aos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, acusados pela execução de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Presos preventivamente desde março de 2019, os dois agora irão a júri popular, um julgamento que talvez possa esclarecer quem foram os mandantes do crime e quais as motivações.

São muitas as coincidências nesta história. Em matéria publicada neste sábado, a Folha rememora fatos sobre a morte de Marielle e conta a relação com o crime do capitão Adriano da Nóbrega, outro amigo de Fabrício Queiroz, morto por policiais, no mês passado, na Bahia, numa evidente operação de queima de arquivo.

"A partir da apuração sobre a morte de Marielle, o MP-RJ passou a investigar a existência de um suposto grupo de assassinos de aluguel, chamado de Escritório do Crime. Um dos alvos era o ex-capitão da PM Adriano da Nóbrega, ligado ao senador Flávio Bolsonaro e chamado de herói pelo presidente. A princípio, não há provas de seu envolvimento no assassinato".

Esta semana, finalmente, foram entregues à Polícia Civil do Rio, para serem periciados, os 13 celulares apreendidos com Adriano, que também poderão esclarecer muitos mistérios.

Mais de 200 testemunhas já foram ouvidas pela Polícia Civil e o Ministério Público no inquérito que corre sob sigilo, mas ainda não apareceram nem pistas dos mandantes, ao que se saiba.

Se tem um assunto que deixa Bolsonaro transtornado é quando os repórteres tocam nesse assunto e perguntam sobre o paradeiro de Fabrício Queiroz, que continua desaparecido.

Numa dessas ocasiões, o presidente respondeu: "Vai perguntar para a tua mãe".

Com as mortes de Adriano da Nóbrega e Gustavo Bebianno, Queiroz é agora o único portador dos segredos que eles levaram para o túmulo.

Só não se sabe se e quando o ex-PM será ouvido.

Vida que segue.